sexta-feira, 4 de junho de 2010

DESDE QUANDO EXISTE O “INFERNO”

Sabemos que este “inferno” já existe pelo menos desde o ano 1750 antes de nossa Era Comum, o que foi há mais de 3.720 anos atrás. Este foi o ano em que os meios-irmãos invejosos de José, filho de Jacó, venderam José em escravidão ao Egito. Mais tarde, estes meios-irmãos mentiram ao seu pai Jacó a respeito do que havia acontecido ao seu amado filho José. Deram-lhe a impressão de que José fora morto por uma fera. O que disse o patriarca Jacó no seu pesar? Onde ele disse que estava então seu filho José? Jacó era hebreu, e a tradução católica romana da Bíblia feita sob os auspícios da Liga de Estudos Bíblicos mostra qual a palavra hebraica que Jacó usou, em Gênesis 37:35. Lemos ali: “Todos os seus filhos e filhas vinham consolá-lo, mas ele recusava toda consolação e dizia: ‘Não! Quero descer em luto ao Cheol [Seol], para junto do meu filho!’” Anos depois, quando os meios-irmãos de José pediram permissão para levar Benjamim, irmão germano de José, ao Egito, Jacó usou novamente esta palavra hebraica e disse: “Se lhe acontecer uma desgraça na viagem que empreendeis, fareis com que meus cabelos brancos desçam cheios de dor ao Cheol.” — Gên. 42:38; veja também 44:29, 31.
Os católicos romanos não devem desperceber que a tradução latina das palavras de Jacó pelo seu São Jerônimo não usa aqui a palavra hebraica Seol. Ela usa a palavra latina “infernus” e sua palavra relacionada “inferi”. Mas a tradução católica romana Douay, em inglês, usa a palavra “inferno” em todos os quatro lugares. (A Figueiredo, no primeiro.) Isto significa, então, que o patriarca hebreu Jacó acreditava que seu querido filho José estivesse no Seol, no infernus, no “inferno”. Também, Jacó esperava ir para lá, para junto de seu filho.
Não nos deixa isso admirados? Esperava Jacó ir realmente para um “inferno” tal como os clérigos da cristandade descreveram durante séculos às pessoas de suas igrejas? Esperava Jacó ir para um lugar de tormento eterno para sua alma, do qual nunca pudesse sair e acreditava ele que seu precioso filho José estivesse em tal lugar? Portanto, estão Jacó e seu filho José em tal lugar de eterno tormento ardente agora já por mais de 3.600 anos desde a sua morte? Isto seria difícil de acreditar, visto que no último livro das inspiradas Escrituras Hebraicas o Senhor Deus diz por meio de seu profeta Malaquias: “A Jacó eu amei e a Esaú [seu irmão gêmeo] eu odiei.” — Mal. 1:2, 3.
De qualquer modo, quando foi que o patriarca Jacó, como homem amado por Deus, foi para o Seol, para o infernus, para o “inferno”? Isto se deu depois de ele morrer no ano 1711 A. E. C., e José e seus irmãos, que ainda viviam, levaram o cadáver embalsamado e o enterraram na caverna de Macpela. Esta se encontrava perto da cidade de Hébron, que hoje está na terra de Israel. Na mesma caverna jazia enterrado o pai de Jacó, Isaque, e também seu avô Abraão. Jacó juntou-se assim a Abraão e Isaque no Seol, no infernus, no “inferno”. — Gênesis 49:33 até 50:13.
Não há motivos bíblicos para se acreditar que estes patriarcas hebreus estejam hoje sofrendo num “inferno” de eterno tormento ardente. Somos ajudados a entender isso por outros tradutores bíblicos. Por exemplo, o ex-sacerdote católico romano Martinho Lutero traduziu a palavra Seol por “cova” (die Grube). E mais tarde, no século depois de Lutero, a Bíblia inglesa autorizada pelo Rei Jaime I da Inglaterra, em 1611 E. C., traduziu Seol por “a sepultura”. Os hebreus, os próprios judeus, devem saber o que a sua própria palavra Seol significa; e, por isso, a tradução inglesa da Bíblia feita pela Sociedade Publicadora Judaica dos Estados Unidos traduz a palavra por “a sepultura”. (1917 E. C.) E o mesmo faz a tradução inglesa do rabino judaico Isaac Leeser. (1853 E. C.) Note, porém, que Seol não significa “uma sepultura”). Significa “a sepultura”, quer dizer, a sepultura comum a toda a humanidade morta. Uma vez que entendemos isso a respeito do “inferno”, conforme é ensinado pela Bíblia Sagrada, somos ajudados a compreender a situação da humanidade morta.
Assim, começando com o uso que Jacó fez da palavra hebraica, “Seol” ocorre sessenta e cinco (65) vezes nos trinta e nove (39) livros das inspiradas Escrituras Hebraicas. A palavra foi usada pelo profeta Moisés, por Jó, Samuel, Davi, Salomão, Isaías, Jeremias (em Reis), Ezequiel, Oséias, Amós, Jonas e Habacuque.
Os tradutores bíblicos não foram uniformes em verter a palavra Seol nas suas línguas. Por exemplo, a Bíblia inglesa autorizada pelo Rei Jaime traduz Seol trinta e uma vezes por inferno, trinta e uma vezes por “a sepultura” e três vezes por “a cova”. (Veja Almeida, ed. revista e corrigida) Portanto, qualquer pessoa razoável admitirá que, nas Escrituras Hebraicas inspiradas, as palavras “inferno”, “a sepultura” e “a cova” significam a mesmíssima coisa. E não há nenhuma relação com fogo, enxofre e tormento eterno. Na versão católica Douay da Bíblia, em inglês, lemos em Eclesiastes 9:5, 10: “Os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem mais nada. . . . Faze seriamente o que a tua mão puder fazer: pois não haverá obra, nem razão, nem sabedoria, nem conhecimento, no inferno [em latim: inferi] para onde te apressas.”
Não é de se admirar, então, que o patriarca Jó, nos seus sofrimentos terríveis pôde dizer: “Quem me dera que me protegesses no inferno [em latim: infernus] e que me ocultasses até que passasse o teu furor, e que me designasses um tempo em que te lembrasses de mim?” (Jó 14:13, Douay) O patriarca Jó sabia que Deus se lembra dos que estão no Seol, no “inferno”, no infernus. Jó cria que Deus se lembraria dele para seu bem, por causa de sua integridade fiel para com o verdadeiro Deus. O profeta Jonas também reconhecia isso, pois, quando estava dentro do grande peixe, no Mar Mediterrâneo, ele disse: “Eu clamei ao Senhor no meio da minha tribulação e Ele me escutou: clamei desde o ventre do inferno [em latim: inferi] e tu escutaste a minha voz.” (Jon. 2:3, Figueiredo) E depois havia também o salmista que escreveu: “Pois não deixarás a minha alma no inferno [em latim: infernus], nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.” — Sal. 16:10, Almeida, ed. rev. e corr.

Um comentário:

  1. Toni, é interessante notar que praticamente todas crenças antigas não criam num céu e inferno, mas num submundo onde todos iam, bons e maus. O Hades dos gregos, o Jigoku dos japoneses, o mundo subterrâneo dos xamãs, e o Seol também é um simples "lugar dos mortos", e não propriamente um "inferno". Parece que a crença num lugar de "castigo" é bem tardia na história humana.

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