quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Faz Alguma Diferença?

Apesar disso, as igrejas da cristandade prosseguem celebrando o Natal ano após ano. Para elas, não faz diferença de onde tenha vindo o Natal. Tudo que parece importar é que é uma época de diversão que se pensa agora ser cristã. Um sacerdote católico-romano respondeu a uma carta de indagação aos Cavaleiros de Colombo sobre este assunto, da seguinte forma:

“A evolução de certos objetos ou festas usados em alguma forma de adoração pagã não tem importância. Quando a Igreja inicia o trabalho missionário entre novo grupo de pessoas, a Igreja regularmente incorpora o que é bom dentre os costumes e hábitos do povo e reinterpreta-os à luz dos ensinos de Cristo. Se, anteriormente, algo estava associado ao erro, a Igreja reeduca o povo à luz da revelação cristã e dá ao objeto ou costume novo significado para o futuro.”

Aceita essa linha de raciocínio? “Não tem importância” realmente a origem do Natal? Pode um sistema eclesiástico ‘reinterpretar’ algo pagão e destarte torná-lo aceitável a Deus e a Cristo Jesus? O que tem a Bíblia a dizer sobre isto?

Considere o caso dos israelitas a quem Deus livrou da escravidão no Egito e levou à “terra prometida” de Canaã (mais tarde chamada Palestina). Quando no Egito, os israelitas familiarizaram-se com muitos costumes religiosos desse país. Os habitantes de seu novo lar, Canaã, também, praticavam muitas tradições religiosas. E se os judeus adaptassem algumas das práticas religiosas do Egito e de Canaã à adoração do verdadeiro Deus, Adotaria Deus o conceito de que ‘não faz diferença, conquanto essa adoração agora me honre’?

Observe a opinião do próprio Deus sobre este assunto, conforme registrada em Deuteronômio 12:30, 31: “Guarda-te para que não . . . indagues . . . ‘Como foi que estas nações costumavam servir aos seus deuses? E eu, sim, farei o mesmo.’ Não deves fazer assim com , teu Deus.” Talvez recorde o desagrado de Deus com a nação de Israel quando adotaram a prática idólatra egípcia da adoração do bezerro. Embora afirmassem que o bezerro representava a Deus e que era uma “festividade para Deus”, Deus disse a Moisés: “Teu povo . . . tem agido ruinosamente.” — Êxo. 32:4, 5, 7.

No primeiro século da Era Comum surgiu outro problema quanto a costumes religiosos. Tornaram-se cristãos alguns judeus que antes celebravam “as festividades periódicas de Deus” (Páscoa, Pentecostes e a Festa dos Tabernáculos) em que se lhes mandara ‘alegrar-se perante Deus, seu Deus’. (Lev. 23:2, 40) Todavia, os cristãos não perpetuariam nem mesmo tais celebrações. (Gál. 4:9-11) Se as festas que o próprio Deus instituíra seriam agora descontinuadas, por certo os cristãos se afastariam de práticas pagãs!

Data e Costumes do Natal

Os peritos mencionam duas explicações para a data de 25 de dezembro. Uma se deve ao cálculo atribuído a certo Hipólito, do terceiro século E. C. Segundo este cálculo, Jesus morreu em 25 de março e foi concebido trinta e três anos antes na mesma data. Indica-se que nove meses a partir dali levariam a 25 de dezembro como a data do nascimento de Jesus.

A segunda opinião é que 25 de dezembro foi escolhido por ser o dia para a celebração pagã do “nascimento do Sol Invencível”, conhecida como Brumália no Império Romano. Esta seguia-se à festa de uma semana das Saturnais (17-24 de dezembro) na ocasião do solistício do inverno setentrional. Nesta época do ano, o período de luz começa a alongar-se. Os romanos pagãos criam que o deus-sol, Mitras, conquistava a escuridão e a melancolia do inverno. Segundo The New Catholic Encyclopedia, este segundo ponto de vista “permanece sendo a explicação mais plausível para a data do Natal”.

O livro The Story of Christmas fala sobre a data de 25 de dezembro:

“Era; em especial, o maior dia de festa da religião mitraísta que parecia, por algum tempo, rivalizar-se com a fé cristã como a religião estatal do Império Romano. . . . A reverência atribuída pelos mitraístas ao 25 de dezembro certamente exerceu sua influência na decisão das autoridades da Igreja em fixar o aniversário oficial de nosso Salvador em 25 de dezembro.

“Escolher o 25 de dezembro, então, como data oficial da Natividade foi adaptar, ao serviço do cristianismo, uma festa de origens imemorialmente antigas e de observância mundial.”

O Professor A. H. Newman explica que os líderes religiosos católicos acharam apropriado fazer com que “o aniversário do Filho de Deus coincidisse como do sol físico”. Assim, a data do Natal resultou duma transigência com a adoração pagã do sol.

O que dizer dos “costumes alegres” do Natal, como o da árvore brilhantemente iluminada e alegremente decorada, o azevinho, o visco, a acha de Natal e a prática de trocar presentes? São costumes cristãos?

O Professor Edward Lehmann escreve em Encyclopedia of Religion and Ethics de Hastings: “A maior parte dos costumes natalinos que agora prevalecem na Europa, ou foram registrados de tempos antigos, não são genuinamente cristãos, mas são costumes pagãos absorvidos ou tolerados pela Igreja. . . . A festa de Natal herdou estes costumes principalmente de duas fontes — do paganismo romano e do teutônico.” Alguns costumes procedem até da antiga Babilônia.

Aniversário de Jesus Cristo?

Em seu livro The Stop of Christmas (História do Natal), escreve Michael Harrison:

“Primeiro de tudo, seja notado que, apesar dos esforços de inúmeros peritos, não se conseguiu ainda provar em que dia . . . Cristo nasceu.”

A Bíblia silencia quanto à data do nascimento de Jesus. Escritos dos primitivos “pais da igreja” estão divididos quanto ao assunto. Clemente de Alexandria (do segundo e terceiro séculos E. C.) refere-se a alguns que criam que Jesus nasceu em 19 ou 20 de abril. Outros preferiam o dia 20 de maio. Ainda outros apontavam para 1.° de janeiro, 6 de janeiro, 21 de março, 28 de março e muitas outras datas. The Catholic Encyclopedia comenta que “não há um mês do ano a que autoridades respeitáveis não tenham atribuído o nascimento de Cristo”.

Não é isto significativo para o leitor? Não é claro que, se Deus quisesse que as pessoas celebrassem o aniversário de Jesus Cristo, teria registrado a data na Bíblia? Lembrar-se-á de que a Bíblia contém a data da Páscoa e da comemoração da morte de Cristo. (Êxo. 12:6, 14; 1 Cor. 11:23-25; Luc. 22:7-20) Aparentemente, não era da vontade de Deus que alguém celebrasse o nascimento de seu Filho, Jesus. Não é surpresa. portanto, ler em The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge: “Não ‘há evidência histórica de que o aniversário de nosso Senhor fosse celebrado durante os tempos apostólicos ou pós-apostólicos iniciais.”

Mas, as igrejas da cristandade estão determinadas a celebrar o nascimento de Jesus. No ano de 354 E. C., a maioria das igrejas fixou a data para isso em 25 de dezembro. Onde arranjaram essa data?

O Que Está Errado no Natal?

Já observou, porém, que amiúde a felicidade inexiste na época de Natal? Recentemente, um sacerdote católico-romano chamou o Natal de “a época anual da depressão e da neurose”. Um empregado dum grande centro de compras observou: “Você sai na sua hora de folga, e vê pessoas correndo de um lado para o outro, comprando um presente para fulano de tal, e ficam muito rabugentas. As pessoas não dão presentes com alegria.”

O escritor Mike McGrady apontou outros problemas surgidos no Natal: “Esta é a época em que os alcoólicos reformados procuram bares acolhedores e jogam fora seus futuros, a época em que maridos normalmente fiéis começam a notar como a gabardina adere às coxas duma secretária.”

O FBI relata mais assassinatos em dezembro do que em qualquer outro mês. A polícia nas grandes cidades observa mais acidentes de tráfego nesta época.

A psicóloga infantil, Dra. Nancy Hayes, afirma que a época de Natal “é um período da maior taxa de depressão! e suicídio entre as crianças”. Observa que muitos jovens ficam deprimidos quando o Natal não fornece as esperadas “soluções mágicas para os problemas”. Assim, ao passo que o Natal pode ser agradável época para alguns, é muito diferente para outros. Por que isto se dá? O que acontece de errado para tantos no Natal?

O sacerdote católico Peter J. Riga indicou uma causa dos problemas: “Como certo psicólogo disse, os estadunidenses sentem-se obrigados a reafirmar os ideais de bondade, generosidade e amor, no Natal, a fim de expiar sua negligência destes mesmos ideais em suas vidas cotidianas. Ver e sentir que as pessoas voltam à sua ganância e despreocupação comuns pode ser devastador para pessoas solitárias e sensíveis em nossa sociedade.”

Dar presentes no Natal, também, amiúde é incorretamente motivado. Muitos se sentem compelidos a dar nesta época do ano. Talvez até contraiam dívidas para isso. Daí, também, alguns dão presentes natalinos por razões egoístas. Comentou um professor de sociologia:

“Reconhecemos a nossa posição e a quem desejamos estar ligados. O dador não só sente a ansiedade de tentar adivinhar o que o recebedor gostaria de receber, mas também a ansiedade adicional de projetar uma imagem adequada de si mesmo.”

Isto, por certo, privaria a pessoa da alegria da dádiva altruísta.

Por causa disto, alguns pararam por completo de celebrar o Natal. Outros insistem que o Natal é basicamente bom, mas acha-se pervertido pelo materialismo e a falta de auto-restrição. Instam com as pessoas a “restaurar o significado religioso do Natal” como celebração do nascimento de Jesus Cristo. Mas, relaciona-se o Natal com o nascimento de Jesus?

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ressurreição, não reencarnação

Embora a Bíblia não apóie a doutrina da reencarnação, ninguém precisa ficar desapontado. A mensagem da Bíblia oferece algo muito mais consolador do que a idéia de nascer de novo num mundo cheio de doenças, tristezas, dor e morte. E o que a Bíblia oferece não é apenas consolador, mas é a verdade, a própria Palavra de Deus.

Paulo expressou desta forma essa doutrina animadora: “Eu tenho esperança para com Deus . . . de que há de haver uma ressurreição tanto de justos como de injustos.” A palavra “ressurreição”, ou alguma forma dela, ocorre mais de 50 vezes nas Escrituras Gregas Cristãs, e Paulo refere-se a ela como uma das doutrinas primárias da fé cristã. — Atos 24:15; Hebreus 6:1, 2.

A ressurreição significa, obviamente, que a morte existe. Em parte alguma na Bíblia você encontrará algum indício de que o homem tenha uma alma imortal. Se o homem tivesse uma alma imortal que se separasse do corpo por ocasião da morte e fosse para um destino eterno no céu ou no inferno, ou reencarnasse, não haveria necessidade de uma ressurreição. Por outro lado, uma centena de textos bíblicos mostra que a alma humana não é imortal, mas sim mortal e destrutível. Coerentemente, a Bíblia fala da morte como sendo o oposto da vida, isto é, a inexistência em contraste com a existência.

A morte, ou a inexistência, foi a punição pelo pecado de Adão e Eva contra Deus. Foi uma punição, não uma porta de entrada para uma vida imortal em algum outro lugar. Deus disse claramente que eles voltariam para o lugar de onde vieram — o pó da terra: “Dele foste tomado. Porque tu és pó e ao pó voltarás.” (Gênesis 3:19) Eles não tinham alma imortal antes de terem sido criados por Deus e colocados na Terra, no jardim do Éden, e tampouco ganharam uma depois que morreram.

A ressurreição é comparável a acordar do sono, ou descanso. Por exemplo, Jesus disse a respeito de Lázaro, a quem ele iria ressuscitar: “Lázaro . . . foi descansar, mas eu viajo para lá para o despertar do sono.” (João 11:11) Concernente ao profeta Daniel, lemos: “[Tu] descansarás, porém, no fim dos dias erguer-te-ás para receber a tua sorte.” — Daniel 12:13.

Textos mal entendidos

Os que crêem na reencarnação dizem que a Bíblia toca no assunto em Mateus 17:11-13, onde Jesus relaciona João, o Batizador, com o antigo profeta Elias. Este texto reza: “‘Elias, de fato, vem e restabelecerá todas as coisas. No entanto, eu vos digo que Elias já veio . . .’ Os discípulos perceberam então que lhes falara de João Batista.”

Queria Jesus dizer com isso que João, o Batizador, era uma reencarnação do profeta Elias? O próprio João sabia que não era. Certa ocasião, quando se lhe perguntou: “És tu Elias?”, João respondeu claramente: “Não sou.” (João 1:21) Contudo, havia sido predito que João precederia o Messias “com o espírito e o poder de Elias”. (Lucas 1:17; Malaquias 4:5, 6) Em outras palavras, João, o Batizador, era “Elias” no sentido de que realizava uma obra comparável à de Elias.

Em João 9:1, 2, lemos: “Ora, quando [Jesus] ia passando, viu um homem cego de nascença. E seus discípulos perguntaram-lhe: ‘Rabi, quem pecou, este homem ou os seus pais, de modo que nasceu cego?’” Alguns que crêem na reencarnação opinam que, uma vez que este homem nasceu cego, seu pecado deve ter ocorrido numa vida passada.

Mas, o que quer que tenha levado os discípulos a fazer esta pergunta, a resposta de Jesus tem de ser o fator decisivo. Ele declarou: “Nem este homem pecou, nem os seus pais.” (João 9:3) Isto contradiz a reencarnação, que implica que as deficiências físicas resultam de pecados de uma vida passada. O ponto de que ninguém pode pecar antes de nascer pode ser deduzido também daquilo que Paulo escreveu sobre Esaú e Jacó: “Ainda não tinham nascido, nem tinham ainda praticado nada de bom ou de ruim.” — Romanos 9:11.

Ensina a Palavra de Deus a reencarnação?

QUEM examinar a Bíblia esperando encontrar apoio para a doutrina da reencarnação estará fadado ao desapontamento. Em lugar algum verá escrito que humanos tiveram vidas passadas. Também, não encontrará na Bíblia expressões tais como “reencarnação”, “transmigração da alma” ou “alma imortal”.

Contudo, alguns que crêem na reencarnação tentam explicar essa falta de apoio bíblico alegando que a idéia da reencarnação era tão comum nos tempos antigos que qualquer explicação teria sido supérflua. De fato, a doutrina da reencarnação é muito antiga, mas, não importa quão antiga seja, ou se era ou não muito comum, ainda fica a pergunta: Será que a Bíblia a ensina?

Em 2 Timóteo 3:16, 17, o apóstolo Paulo escreveu: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa para ensinar, para repreender, para endireitar as coisas, para disciplinar em justiça, a fim de que o homem de Deus seja plenamente competente, completamente equipado para toda boa obra.” Sim, a Bíblia é a Palavra inspirada de Deus, seu meio de comunicação com a família humana. E, como Paulo escreveu, habilita o inquiridor sincero a ficar “plenamente competente, completamente equipado” para responder a todas as perguntas importantes a respeito da vida, incluindo as sobre o passado, o presente e o futuro.

Paulo disse também: “Quando recebestes a palavra de Deus, que ouvistes de nós, vós a aceitastes, não como a palavra de homens, mas, pelo que verazmente é, como a palavra de Deus.” (1 Tessalonicenses 2:13) Visto que a Bíblia contém os pensamentos de Deus, não os do homem imperfeito, não nos deve surpreender que a Bíblia muitas vezes difira dos pensamentos do homem, mesmo que estes tenham sido populares no decorrer dos anos. Mas, talvez diga: ‘Será que a Bíblia, em alguns lugares, pelo menos não insinua a reencarnação?’

sábado, 18 de setembro de 2010

Enigmas históricos

Alguns acham difícil conciliar a idéia de que cerca de 20 judeus teriam partido de Jerusalém para a América do Norte, em 600 AEC, com a de que, em menos de 30 anos, eles se tivessem multiplicado e se dividido em duas nações! (2 Nefi 5:28) Dentro de 19 anos após a sua chegada, esse grupo pequeno supostamente construiu um templo “segundo o modelo do templo de Salomão . . ., e sua obra, portanto, era consideravelmente formosa” — deveras, uma tarefa colossal! A construção do templo de Salomão, em Jerusalém, levou sete anos e ocupou cerca de 200.000 trabalhadores, artífices e capatazes. — 2 Nefi 5:16; compare com 1 Reis 5, 6.

Os que lêem com cuidado O Livro de Mórmon ficam perplexos com certos eventos que parecem fora da ordem cronológica correta. Por exemplo, Atos 11:26 diz: “Os discípulos foram chamados cristãos pela primeira vez em Antioquia.” (KJ) Mas Alma 46:15, segundo dá a entender ao descrever eventos em 73 AEC, fala de cristãos na América antes de Cristo vir à Terra.

O Livro de Mórmon apresenta-se mais como narrativa histórica do que como tratado de doutrinas. As frases “e aconteceu que” e “e sucedeu que” ocorrem cerca de 1.200 vezes na edição atual — cerca de 2.000 vezes na edição de 1830. Muitos dos lugares mencionados na Bíblia ainda existem, mas a localização de a bem dizer todos os locais citados em O Livro de Mórmon, como, por exemplo, Gimgimno e Zeezrom, é desconhecida.

A história dos mórmons fala de vastos povoamentos no continente norte-americano. Helamã 3:8 reza: “E sucedeu que se multiplicaram e se espalharam . . . de forma tal que começou a ser povoada toda a face da terra.” De acordo com Mórmon 1:7, a terra “se achava coberta com edifícios”. Muitos se perguntam onde estão os vestígios dessas civilizações florescentes. Onde estão os artefatos dos nefitas, suas moedas de ouro, espadas, escudos ou armaduras? — Alma 11:4; 43:18-20.

Ao considerar essas perguntas, os adeptos do mormonismo fazem bem em refletir seriamente nas palavras do mórmon Rex E. Lee: “A autenticidade do mormonismo fica de pé ou cai junto com o livro do qual a Igreja deriva seu nome.” Uma fé fundamentada em conhecimento bíblico sólido, em vez de numa mera oração carregada de emoção, representa um desafio para os mórmons sinceros — bem como para todos os que professam ser cristãos.

O Livro de Mórmon, pedra fundamental da fé

Joseph Smith exaltou O Livro de Mórmon como “o livro mais correto da terra e a pedra fundamental de nossa religião”. Uma coleção de placas de ouro seria alegadamente a fonte de seus escritos. Onze mórmons testificaram ter visto as placas. Após concluir a tradução do documento, porém, Smith disse que as placas foram levadas para o céu. Assim, não se acham à disposição para análise textual.

A Pérola de Grande Valor fala de um professor de nome Charles Anthon, a quem teria sido mostrada uma cópia de algumas das inscrições, e que ele as declarou autênticas, e a tradução, correta. Mas ao saber a origem das placas, o relato diz que ele retratou seu parecer. Essa história soa incoerente com a afirmação de Smith de que só ele tinha o dom de traduzir o idioma das placas, “o conhecimento do qual foi perdido pelo mundo”. Poderia o professor Anthon verificar a exatidão de um texto que ele não sabia ler e, portanto, não poderia traduzir?

O Livro de Mórmon cita extensivamente da versão King James da Bíblia, cujo inglês shakespeariano já era considerado arcaico nos dias de Joseph Smith. Incomoda alguns de seus leitores o fato de que O Livro de Mórmon, o “mais correto” dos livros, plagia pelo menos 27.000 palavras de uma versão da Bíblia que está, segundo ele dá a entender, repleta de erros e que Smith mais tarde empreendeu revisar.

A comparação da primeira edição de O Livro de Mórmon com as edições atuais revela a muitos mórmons um fato surpreendente — que o livro supostamente “traduzido . . . pelo dom e poder de Deus” teve sua gramática, grafia e substância várias vezes alteradas. Há, por exemplo, uma confusão patente sobre a identidade do “Pai Eterno”. Segundo a primeira edição de 1 Nefi 13:40, “o Cordeiro de Deus é o Pai Eterno”. Mas, edições posteriores dizem que “o Cordeiro de Deus é o Filho do Pai Eterno”. (O grifo é nosso.) Os dois manuscritos originais de O Livro de Mórmon, escritos em 1830, ainda existem. Um deles, de posse da Igreja Reorganizada de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, tem as palavras “o Filho” acrescentadas entre as linhas.

Quanto a Doutrina e Convênios, livro sagrado para os mórmons, o erudito dos Santos dos Últimos Dias, Lyndon W. Cook, explica no prefácio do livro The Revelations of the Prophet Joseph Smith: “Tendo em vista que algumas revelações foram revisadas pelas comissões incumbidas de organizá-las para publicação, nota-se que houve acréscimos e supressões textuais significativas.” Uma dessas alterações encontra-se em Livro de Mandamentos 4:2 que disse a respeito de Smith: “Ele tem o dom de traduzir o livro . . . Não lhe concederei nenhum outro dom.” Mas quando a revelação foi reimpressa no ano de 1835 em Doutrina e Convênios, ela passou a rezar: “Pois não te concederei nenhum outro dom, até que a tradução esteja completa.” — 5:4.

“Como Deus é, o homem pode vir a ser”

“Embora não nos lembremos disso”, explica Lee, “nós existimos como espíritos na vida anterior”. De acordo com essa crença de progressividade eterna dos Santos dos Últimos Dias, pela obediência estrita o homem pode se tornar um deus — um criador como Deus. “O próprio Deus já foi como somos agora — ele é um homem exaltado, entronizado em céus distantes!”, declarou Joseph Smith. “Tereis de aprender como tornar-vos deuses vós mesmos, . . . da mesma forma como todos os deuses fizeram antes de vós.” Lorenzo Snow, profeta mórmon, disse: “Como o homem é, Deus já foi; como Deus é, o homem pode vir a ser.”

Será que esse futuro é apresentado nas páginas da Bíblia? A única oferta de divindade registrada nela foi a promessa sem fundamento de Satanás, o Diabo, no jardim do Éden. (Gênesis 3:5) A Bíblia revela que Deus criou Adão e Eva para viver na Terra e ordenou-lhes que gerassem uma família humana perfeita que viveria aqui em felicidade eterna. (Gênesis 1:28; 3:22; Salmo 37:29; Isaías 65:21-25) A desobediência proposital de Adão deu início ao pecado e à morte no mundo. — Romanos 5:12.

O Livro de Mórmon diz que se Adão e Eva — anteriormente espíritos — não tivessem pecado, não teriam tido filhos nem alegria e teriam permanecido sozinhos no Paraíso. Assim, sua versão do pecado do primeiro casal envolve relação sexual e gerar filhos. “Adão caiu, para que os homens existissem; e os homens existem, para que tenham alegria.” (2 Nefi 2:22, 23, 25) Segundo os mórmons, os espíritos no céu aguardam uma oportunidade de viver na Terra pecaminosa — passo necessário rumo à perfeição e à divindade. Diz a revista Ensign, dos Santos dos Últimos Dias: “Olhamos para o que Adão e Eva fizeram com grande apreço em vez de com desdém.”

“Esta doutrina [a de que o homem existiu no domínio espiritual]”, diz Joseph Fielding Smith, sobrinho-neto de Joseph Smith, “na Bíblia é apenas discernida através de uma neblina ou névoa . . . porque muitas coisas claras e preciosas foram tiradas da Bíblia”. Ele declara ainda: “Essa crença baseia-se numa revelação dada à Igreja em 6 de maio de 1833.” Portanto, embora aceitem a inspiração da Bíblia, em caso de desacordo, a doutrina dos Santos dos Últimos Dias necessariamente confere maior peso às palavras de seus profetas.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Os mórmons e a Bíblia

“Cremos ser a Bíblia a palavra de Deus, o quanto seja correta sua tradução”, declara o artigo oitavo das Regras de Fé do mormonismo. Mas acrescenta: “Cremos também ser o Livro de Mórmon a palavra de Deus.” Muitos se perguntam, porém, que necessidade há de outras Escrituras?

O elder Bruce R. McConkie afirmou: “Não há ninguém na Terra que tenha a Bíblia em tão alta conta quanto os [mórmons]. . . . Mas nós não cremos que . . . a Bíblia contenha todas as coisas necessárias para a salvação.” No panfleto Quem São os Mórmons?, o presidente Gordon B. Hinckley escreveu que as inúmeras seitas e religiões “prestam testemunho da insuficiência da Bíblia”.

Os escritores mórmons expressam dúvidas profundas sobre a veracidade da Bíblia por causa de alegadas supressões e erros de tradução. O apóstolo mórmon James E. Talmage, no livro Um Estudo das Regras de Fé, insta: “Leia-se, pois, a Bíblia reverentemente e com cuidado e oração, buscando o leitor a luz do Espírito para poder sempre distinguir entre a verdade e os erros dos homens.” Orson Pratt, um dos primeiros apóstolos do mormonismo, foi ainda mais longe: “Quem garante que um versículo sequer da Bíblia inteira tenha escapado de deturpação?”

Neste respeito, parece que os mórmons não estão a par de todos os fatos. É verdade que o texto bíblico foi copiado e traduzido muitas vezes ao longo dos anos. Todavia, a evidência de que ele, em essência, não foi alterado é esmagadora. Milhares de manuscritos hebraicos e gregos antigos foram escrutinados lado a lado com cópias mais recentes da Bíblia. Por exemplo, o Rolo do Mar Morto de Isaías, datado do segundo século AEC, foi comparado com um manuscrito datado de mais de mil anos depois. Havia sérias adulterações? Ao contrário, certo erudito que analisou os manuscritos declarou que as poucas diferenças encontradas “consistiam principalmente em lapsos óbvios da pena e variações de grafia”.

Depois de uma vida inteira dedicada a estudos intensos, o ex-diretor do Museu Britânico, Sir Frederic Kenyon, atestou: “O cristão pode segurar a Bíblia inteira na mão e dizer sem receio nem hesitação que segura a verdadeira Palavra de Deus, passada sem perda significativa de geração a geração através dos séculos.” De modo que as palavras do salmista ainda são verazes hoje: “As palavras do Senhor são palavras puras: como a prata refinada num forno de barro, purificada sete vezes.” (Salmo 12:6, King James Version) Será que realmente precisamos de mais do que isto?

“Tu, tolo”, censura O Livro de Mórmon, em 2 Nefi 29:6, “dirás: Uma Bíblia, temos uma Bíblia, e não necessitamos mais de Bíblia!” Muitos mórmons, porém, ponderaram nas palavras severas do apóstolo Paulo, na Bíblia, em Gálatas 1:8 (KJ): “Mesmo que nós, ou um anjo do céu, pregássemos qualquer outro evangelho a vós além do que pregamos a vós, que seja amaldiçoado.”

Os eruditos dos Santos dos Últimos Dias explicam que a nova escritura não vai além do que é declarado na Bíblia; é apenas um esclarecimento e uma complementação dela. “Não há divergência entre os dois”, escreve Rex E. Lee, presidente da Universidade Brigham Young. “Tanto a Bíblia como o Livro de Mórmon ensinam o mesmo plano de salvação.” Não divergem mesmo? Considere o plano de salvação do mormonismo.

A igreja de Joseph Smith hoje

Os mórmons acreditam que sua religião é a restauração da verdadeira igreja, com seu sacerdócio e suas ordenanças. Daí o seu nome oficial: Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Na Igreja Mórmon não há distinção entre clero e leigos. Em vez disso, a partir dos 12 anos, todo adepto do sexo masculino, digno, pode ajudar a cuidar dos vários deveres da igreja, alcançando o sacerdócio aos 16 anos.

A maioria dos cargos na igreja não são remunerados, e as famílias dos Santos dos Últimos Dias participam nos muitos programas patrocinados pela congregação em sua localidade, ou ala. Em nível congregacional, os élderes, os bispos e os presidentes das estacas (distritos) supervisionam os bem-organizados assuntos da igreja. Um conselho de 12 apóstolos, em Salt Lake City, tem jurisdição mundial. Por fim, o presidente da igreja — reverenciado como profeta, vidente e revelador — e dois conselheiros compõem o corpo que preside a igreja, chamado de Quorum da Presidência, ou Primeira Presidência.

Várias ordenanças afetam a vida dos mórmons devotos. O batismo, que significa arrependimento e obediência, pode ocorrer depois que o crente completa oito anos de idade. O lavamento e a unção o purifica e consagra. A cerimônia do endowment (investidura) no templo envolve uma série de convênios, ou promessas, e uma veste de baixo especial, do templo, a ser usada sempre daí em diante, como proteção contra o mal e como lembrete dos votos de segredo assumidos. Também, um casal de mórmons pode selar seu casamento num templo “pelo tempo e pela eternidade”, para que sua família não seja desfeita no céu, onde o casal pode continuar a ter filhos.

O mormonismo tem ganhado aceitação graças a seu programa social, estabelecido para que “a maldição da ociosidade fosse eliminada”. É financiado pelos adeptos da localidade, que renunciam a duas refeições por mês e doam o valor delas à igreja. Além disso, exige-se que os fiéis paguem o dízimo. A família e os amigos suprem os fundos para sustentar os missionários mórmons, em geral jovens que dedicam cerca de dois anos ao serviço.

Abnegação, famílias unidas e responsabilidade cívica são características da vida dos mórmons. Mas quais são as suas crenças?

O mormonismo: restauração de todas as coisas?

O TEMPLO mórmon de Salt Lake City, Utah, é, para os Santos dos Últimos Dias, um símbolo de sua fé do qual muito se orgulham. Diligência, valores familiares e auto-suficiência financeira são lemas do mormonismo. Os missionários mórmons, com crachás, são uma vista comum ao redor do globo. Mas alguns assuntos internos, sagrados para os mórmons, não são revelados às pessoas de fora da igreja. De modo que a igreja continua a ser alvo de boatos sensacionalistas. Um exame justo, porém, deve basear-se, não em histórias injuriosas e maldosas, mas nos fatos. O que podemos aprender a respeito dessa religião tão difamada?

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Anátemas Pronunciados Contra Opositores

Em 325 EC, um concílio de bispos, reunido em Nicéia, na Ásia Menor, formulou um credo que declarava que o Filho de Deus era “Deus verdadeiro” assim como o Pai era “Deus verdadeiro”. Parte desse credo declarava:

“Mas, quanto aos que dizem que Houve [tempo] em que [o Filho] não existia, e que, Antes de nascer, Ele não era, e que Ele veio à existência do nada, ou que afirmam que o Filho de Deus é de diferente hipóstase ou substância, ou que é criado, ou que está sujeito a alteração ou mudança — a estes a Igreja Católica anatematiza.”3

Assim, quem quer que acreditasse que o Filho de Deus e o Pai não eram coeternos, ou que o Filho foi criado, era destinado à perdição eterna. Pode-se imaginar a pressão que tal conceito exercia sobre as massas de crentes comuns para que concordassem com isto.

No ano 381 EC, reuniu-se outro concílio, em Constantinopla, e declarou que o espírito santo devia ser adorado e glorificado como o Pai e o Filho eram. Um ano mais tarde, em 382 EC, outro sínodo reuniu-se em Constantinopla e ratificou a plena divindade do espírito santo.4 Naquele mesmo ano, perante um concílio em Roma, o Papa Dâmaso apresentou uma coletânea de ensinos a serem condenados pela igreja. O documento, chamado de Tomo de Dâmaso, incluía as seguintes declarações:

“Se alguém nega que o Pai é eterno, que o Filho é eterno, e que o Espírito Santo é eterno, este é herege.”

“Se alguém nega que o Filho de Deus é Deus verdadeiro, assim como o Pai é Deus verdadeiro, tendo todo o poder, sabendo todas as coisas, e que é igual ao Pai, este é herege.”

“Se alguém nega que o Espírito Santo . . . é Deus verdadeiro . . . que tem todo o poder e sabe todas as coisas, . . . este é herege.”

“Se alguém nega que as três pessoas, o Pai, o Filho, e o Espírito Santo, são pessoas verdadeiras, iguais, eternas, contendo todas as coisas visíveis e invisíveis, que são onipotentes, . . . este é herege.”

“Se alguém diz que [o Filho que foi] feito carne não estava no céu com o Pai enquanto estava na terra, este é herege.”

“Se alguém, embora diga que o Pai é Deus, e que o Filho é Deus, e que o Espírito Santo é Deus, . . . não diz que eles são um só Deus, . . . este é herege.”5

Os peritos jesuítas, que traduziram do latim o que acabamos de citar, acrescentaram o seguinte comentário: “O Papa S. Celestino I (422-32) aparentemente considerava estes cânones como lei; estes podem ser considerados como definições de fé.”6 E o perito Edmund J. Fortman declara que o tomo representa “sã e sólida doutrina trinitarista”.7

Se você é membro duma igreja que aceita o ensino da Trindade, será que essas declarações definem sua fé? E notou que crer na doutrina da Trindade, conforme ensinada pelas igrejas, requer que acredite que Jesus estava no céu enquanto estava na Terra? Este ensino é similar ao que Atanásio, clérigo do quarto século, declarou em seu livro On the Incarnation (Sobre a Encarnação):

“A Palavra [Jesus] não estava confinada ao Seu corpo, tampouco Sua presença no corpo O impedia de estar presente também em outro lugar. Quando El[e] transferiu seu corpo, El[e] não parou de também dirigir o universo por Sua Mente e poder. . . . El[e] ainda é Fonte de vida para todo o universo, presente em todas as partes dele; no entanto, fora do todo.”8

A Doutrina da Trindade

Quase todas as igrejas da cristandade ensinam que Deus é uma Trindade. The Catholic Encyclopedia (Enciclopédia Católica) diz que o ensino da Trindade é “a doutrina central da religião cristã”, definindo-o do seguinte modo:

“Na unidade da Divindade, há Três Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, estas Três Pessoas sendo realmente distintas uma da outra. Assim, nos dizeres do Credo Atanasiano: ‘o Pai é Deus, o Filho é Deus, e o Espírito Santo é Deus; e, não obstante, não são três Deuses, mas um só Deus.’ . . . As Pessoas são coeternas e coiguais: todas são igualmente incriadas e onipotentes.”1

The Baptist Encyclopædia (Enciclopédia Batista) dá uma definição similar. Ela diz:

“[Jesus] é . . . o eterno Deus . . . O Espírito Santo é Deus . . . O Filho e o Espírito Santo são colocados em exata igualdade com o Pai. Se este é Deus, os demais também o são.”2

Ensinava a Primitiva Igreja Que Deus É Uma Trindade? Parte 1 — Ensinavam Jesus e seus discípulos a doutrina da Trindade?

Ensinavam Jesus e seus discípulos a doutrina da Trindade? Ensinavam-na os líderes da igreja dos séculos que seguiram? Como se originou essa doutrina? E por que é importante saber a verdade sobre essa crença? A partir da Parte 1, nesta edição, A Sentinela considerará estas perguntas numa série de artigos. Outros artigos da série serão publicados periodicamente em futuras edições.

AQUELES que aceitam a Bíblia como a Palavra de Deus reconhecem que têm a responsabilidade de ensinar outros a respeito do Criador. Dão-se conta também de que a substância do que ensinam sobre Deus tem de ser verdadeira.

Deus censurou os “consoladores” de Jó por não fazerem isso. “Deus passou a dizer a Elifaz, o temanita: ‘Minha ira se acendeu contra ti e contra os teus dois companheiros, pois não falastes a verdade a meu respeito assim como fez meu servo Jó.’” — Jó 42:7.

O apóstolo Paulo, ao considerar a ressurreição, disse que seríamos “achados como falsas testemunhas de Deus” se ensinássemos sobre as atividades de Deus algo que não fosse verdadeiro. (1 Coríntios 15:15) Visto ser assim no que concerne à ressurreição, quão cuidadosos precisamos ser ao abordar o ensino a respeito de quem é Deus!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O julgamento de um prelado

Pietro Carnesecchi, nascido em Florença no início do século 16, progrediu rapidamente na carreira eclesiástica na corte do Papa Clemente VII, que o designou seu secretário particular. Contudo, sua carreira foi interrompida abruptamente quando o papa morreu. Mais tarde, ele conheceu nobres e clérigos que, como ele, aceitavam algumas doutrinas ensinadas pela Reforma Protestante. Em resultado disso, ele foi levado a julgamento três vezes. Condenado à morte, foi decapitado e seu corpo, queimado.

Comentaristas descreveram o terrível confinamento de Carnesecchi na prisão. Para quebrar sua resistência, ele foi torturado e deixado sem alimento. Em 21 de setembro de 1567, seu auto-da-fé solene foi realizado em Roma, na presença de quase todos os cardeais. A sentença de Carnesecchi foi lida para ele no cadafalso, diante da multidão. Terminou com as palavras rituais costumeiras e com uma oração aos membros do tribunal civil, para quem o herege seria entregue, no sentido de ‘moderarem a sentença infligida a ele e de não provocarem a morte dele nem derramamento excessivo de sangue’. Que hipocrisia! Os inquisidores queriam eliminar os hereges, mas, ao mesmo tempo, fingiam pedir às autoridades seculares que fossem misericordiosas. Dessa forma, queriam salvar as aparências e tirar a culpa de sangue dos próprios ombros. Depois que a sentença de Carnesecchi foi lida, fizeram que ele vestisse um sambenito, uma roupa de saco amarela pintada com cruzes vermelhas, no caso dos penitentes, ou preta com chamas e demônios, para os impenitentes. A sentença foi executada dez dias depois.

Por que esse ex-secretário do papa foi acusado de heresia? Os autos do processo do seu julgamento, descobertos no fim do século passado, revelam que ele foi considerado culpado de 34 acusações, que correspondem às doutrinas que ele contestava. Entre elas estavam os ensinos do purgatório, do celibato para sacerdotes e freiras, da transubstanciação, da confirmação, da confissão, da proibição de certos alimentos, das indulgências e das orações aos “santos”. A oitava acusação é especialmente interessante. (Veja o quadro na página 21.) Condenando à morte quem aceitava somente a “palavra de Deus conforme expressa nas Escrituras Sagradas” como base para suas crenças, a Inquisição mostrou claramente que a Igreja Católica não considera a Bíblia Sagrada como a única fonte inspirada. Assim, não é de admirar que muitas das doutrinas da Igreja sejam baseadas, não nas Escrituras, mas na tradição da Igreja.

O julgamento e o auto-da-fé

A História demonstra que os inquisidores torturavam os acusados de heresia a fim de extrair confissões. No esforço de diminuir a culpa da Inquisição, comentaristas católicos têm escrito que, naquele tempo, a tortura era comum até nos tribunais seculares. Mas será que isso justifica o uso de tortura por ministros que afirmavam ser representantes de Cristo? Não deveriam eles ter demonstrado a mesma compaixão que Cristo mostrou por seus inimigos? Para encarar esse assunto de modo objetivo, poderíamos refletir sobre a seguinte pergunta: será que Cristo Jesus teria torturado os que não concordassem com os seus ensinos? Jesus disse: “Continuai a amar os vossos inimigos, a fazer o bem aos que vos odeiam.” — Lucas 6:27.

A Inquisição não garantia justiça aos acusados. Na prática, o inquisidor tinha poderes ilimitados. “Suspeitas, acusações e até boatos eram suficientes para o inquisidor intimar uma pessoa a comparecer perante ele.” (Enciclopedia Cattolica) Italo Mereu, historiador jurídico, afirma que foi a própria hierarquia católica que concebeu e adotou o sistema inquisitorial de justiça, abandonando o antigo sistema acusatório fundado pelos romanos. A lei romana exigia que o acusador provasse suas alegações. Se houvesse qualquer dúvida, era melhor absolver do que correr o risco de condenar um inocente. A hierarquia católica substituiu esse princípio fundamental pela idéia de que suspeita pressupõe culpa, e era o acusado quem tinha de demonstrar sua inocência. O nome das testemunhas de acusação (os informantes) era mantido em sigilo, e o advogado de defesa, quando havia um, se arriscava a ser desonrado e a perder seu cargo se defendesse com êxito um suposto herege. Em resultado disso, admite a Enciclopedia Cattolica, “os acusados ficavam virtualmente sem defesa. Tudo que o advogado podia fazer era aconselhar o culpado a confessar”.

O julgamento acabava num auto-da-fé (literalmente: “ato de fé”). O que era isso? Desenhos da época mostram que os infelizes acusados de heresia se tornavam vítimas de um espetáculo horrível. O Dizionario Ecclesiastico define o auto-da-fé como “ato público de reconciliação realizado pelos hereges condenados e arrependidos” depois da leitura de sua condenação.

A condenação e a execução dos hereges eram adiadas de modo que várias delas pudessem ser juntadas num único espetáculo horrendo, duas ou mais vezes por ano. Uma longa procissão de hereges passava diante dos observadores, que participavam de tudo isso com um misto de horror e fascínio sádico. Os condenados tinham de subir num cadafalso no meio de uma praça grande, e suas sentenças eram lidas em voz alta. Os que renegassem, isto é, renunciassem às doutrinas heréticas, eram poupados da excomunhão e sentenciados a várias punições, incluindo prisão perpétua. Os que não renegassem, mas que no último momento se confessassem com um sacerdote, eram entregues às autoridades civis para serem estrangulados, enforcados ou decapitados, e depois queimados. Os impenitentes eram queimados vivos. A execução propriamente dita acontecia em outra ocasião, após outro espetáculo público.

A atividade da Inquisição Romana era mantida em sigilo absoluto. Até hoje, os eruditos não podem consultar seus arquivos. Porém, pesquisas pacientes revelaram vários documentos jurídicos de tribunais romanos. O que eles nos contam?

Julgamento e execução de “hereges”

DO CORRESPONDENTE DE DESPERTAI! NA ITÁLIA

NUM lado da sala sombria do tribunal está a mesa dos juízes, elevada e imponente. Acima do lugar do presidente, no centro, há um dossel de pano escuro e, sobre esse, uma grande cruz de madeira que se destaca no recinto. Diante do presidente, o banco dos réus.

Com freqüência descreviam-se assim os tribunais da sinistra Inquisição Católica. A acusação terrível levantada contra os infelizes acusados era “heresia”, uma palavra que evoca imagens de tortura e execução por queima na estaca. A Inquisição (do verbo latino inquiro, “fazer pesquisas, procurar saber”) era um tribunal eclesiástico especial, instituído para eliminar heresias, ou seja, opiniões ou doutrinas que não concordassem com o ensino católico-romano tradicional.

Fontes católicas declaram que ela foi estabelecida em estágios. O Papa Lúcio III instituiu-a no Concílio de Verona, em 1184, e sua organização e procedimentos foram aperfeiçoados por outros papas, se é que se pode usar a palavra “aperfeiçoar” para essa instituição temível. No século 13, o Papa Gregório IX estabeleceu tribunais inquisitoriais em várias partes da Europa.

A infame Inquisição Espanhola teve início em 1478, com uma bula papal emitida pelo Papa Sisto IV, atendendo à solicitação dos soberanos Fernando e Isabel. Foi estabelecida para combater os marranos, judeus que fingiam se converter ao catolicismo para escapar da perseguição; os mouros, muçulmanos convertidos pela mesma razão; e os hereges espanhóis. Devido ao seu zelo fanático, o primeiro inquisidor-geral da Espanha, Tomás de Torquemada, frade dominicano, passou a personificar os piores aspectos da Inquisição.

Em 1542, o Papa Paulo III instituiu a Inquisição Romana, que tinha jurisdição sobre o inteiro mundo católico. Ele designou um tribunal central de seis cardeais chamado Congregação da Santa Inquisição Romana e Universal, uma assembléia eclesiástica que iniciou “um governo de terror que encheu toda a Roma de medo”. (Dizionario Enciclopedico Italiano) A execução de hereges aterrorizava os países onde a hierarquia católica tinha controle total.

sábado, 28 de agosto de 2010

A cristandade segue o mesmo caminho que Canaã

A RELIGIÃO dos cananeus envolvia a fornicação, o adultério, o homossexualismo e a matança de crianças. Por causa dela, a terra os havia vomitado. Os israelitas copiaram essa religião e misturaram suas obscenidades com a adoração de Deus, e a terra os vomitou. Atualmente, existem pessoas e religiões que afirmam ser cristãs, mas que copiam essas antigas imoralidades sexuais. Tornaram-se comuns a fornicação e o adultério. Grassam por toda a parte o homossexualismo e a eliminação da vida no útero. Indesejados, os bebês em Canaã eram sacrificados às centenas; atualmente, são jogados aos milhões na lata de lixo — 55 milhões por ano. — Compare com Êxodo 21:22, 23.
Muitas igrejas na cristandade, para não serem rotuladas de antiquadas ou moralistas, apressam-se em embarcar no trem do “vale tudo”. Alguns até fazem provisões para o pecado sexual “seguro”, tais como o ministro da Igreja Unitária Universal que parou o sermão para distribuir “camisinhas” pela congregação.
Um colunista, que é episcopal, disse: “A Igreja Episcopal dos anos 80 é uma loja de taxidermia teológica. Pode-se confiar nela para empalhar e montar na vitrine qualquer tendência da sociedade que pareça mais atualizada. Em alguns anos, é a política. Este ano é o sexo.” Ele se refere a um novo currículo de educação sexual que mostra que “os cristãos não estão atualizados ao se recusarem a tolerar o sexo gay . . . e a beatitude dos não-casados.” Um bispo episcopal de Nova Iorque acredita que “algum dia, os relacionamentos homossexuais responsáveis serão aceitos como se fossem a vontade de Deus”.
Roy Howard Beck, afiliado ao semanário religioso United Methodist Reporter, escreveu em seu livro On Thin Ice (Sobre Gelo Fino): “Já foram flagrados no ato [imoralidades] televangelistas, pregadores das principais correntes religiosas cujos templos têm campanários elevados, bispos, bem-conhecidos líderes carismáticos, destacados líderes leigos, reverenciados pastores de igrejas pequenas, sacerdotes, pentecostais, liberais, conservadores — cite a classe que quiser. Que comentário sobre o papel da igreja em soerguer a sociedade!” — Página 214.

O que você deveria fazer?

O fracasso da Igreja em ensinar o cristianismo genuíno e não adulterado aos povos da África tem tido conseqüências desastrosas. O tribalismo persiste, assim como o nacionalismo em outros lugares, o que resulta em católicos se massacrarem. Que desonra para Cristo! A Bíblia diz que essa matança bárbara identifica as pessoas como “filhos do Diabo”, e Jesus diz, com respeito a essas pessoas: “Afastai-vos de mim, vós obreiros do que é contra a lei.” — 1 João 3:10-12; Mateus 7:23.
Então, o que os católicos sinceros precisam fazer? A Bíblia recomenda fortemente que os cristãos estejam alertas contra transigir com quaisquer práticas ou crenças que tornariam sua adoração impura aos olhos de Deus. “Não vos ponhais em jugo desigual com incrédulos”, diz a Bíblia. Para ter o favor de Deus, você precisa ‘separar-se deles e cessar de tocar em qualquer coisa impura aos olhos de Deus’. — 2 Coríntios 6:14-17.

A Igreja e a “inculturação”

John M. Walliggo explicou que “adaptação é o termo usado já por muito tempo para referir-se à mesma realidade”. Em palavras mais simples, “inculturação” significa a assimilação de tradições e conceitos de religiões tribais nas cerimônias e no culto católicos, dando-se novo nome e novo significado a antigos ritos, objetos, gestos e lugares.
A inculturação permite que os africanos sejam considerados católicos de boa reputação e ainda se apeguem a práticas, cerimônias e crenças de suas religiões tribais. Deveria haver objeção a isso? O jornal italiano La Repubblica, por exemplo, perguntou: “Não é verdade que, na Europa, o Natal foi embutido na festa do Solis Invicti, que caía em 25 de dezembro?”
De fato, como comentou o cardeal Josef Tomko, prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, “a Igreja missionária praticava a inculturação muito antes de o termo passar a ser usado”. A celebração do Natal ilustra bem isso, como disse La Reppublica. Originalmente, o Natal era uma celebração pagã. “A data de 25 de dezembro não corresponde ao nascimento de Cristo”, reconhece a New Catholic Encyclopedia, “mas à festa do Natalis Solis Invicti, o festival romano do sol, no solstício”.
O Natal é apenas um dentre muitos costumes da Igreja embutidos no paganismo. É o caso de crenças como a Trindade, a imortalidade da alma e o tormento eterno de almas humanas após a morte. O cardeal John Henry Newman, do século 19, escreveu: “Os governantes da Igreja, desde os tempos primitivos, estavam preparados, caso surgisse a ocasião, para adotar, imitar ou sancionar os existentes ritos e costumes da populaça.” Alistando muitas práticas e dias santos eclesiásticos, ele disse que ‘todos eram de origem pagã e foram santificados pela sua adoção na Igreja’.
Quando os católicos entram em regiões não-cristãs, como certas regiões da África, em muitos casos constatam que as pessoas já têm práticas e crenças religiosas similares às da Igreja. Isso acontece porque, em séculos passados, a Igreja adotou práticas e ensinos de povos não-cristãos e introduziu-os no catolicismo. Essas práticas e ensinos, disse o cardeal Newman, foram ‘santificados pela sua adoção na Igreja’.
Assim, quando o Papa João Paulo II visitou povos não-cristãos na África no ano passado, L’Osservatore Romano atribuiu-lhe a declaração: “Em Cotonou [Benin, África], encontrei-me com adeptos do vodu, e ficou evidente, por sua maneira de falar, que, de algum modo, eles já têm em sua mentalidade, ritos, símbolos e índole um pouco daquilo que a Igreja quer oferecer-lhes. Estão apenas esperando que alguém vá lá e lhes dê uma mão para que possam cruzar a fronteira e vivenciar, por meio do Batismo, o que, de algum modo, já vivenciavam antes do Batismo.”

Sobrevivência em risco, diz o sínodo

Os bispos africanos no sínodo expressaram temor pela sobrevivência do catolicismo na África. “Se queremos que a Igreja continue a existir no meu país”, disse Bonifatius Haushiku, um bispo namíbio, “temos de considerar mui seriamente a questão da inculturação”.
Expressando sentimentos semelhantes, a agência católica de notícias Adista, uma agência italiana, disse: “Falar de ‘inculturação’ do Evangelho na África significa falar do próprio destino da Igreja Católica naquele continente, de suas chances de sobreviver ou não.”
Exatamente o que os bispos querem dizer com “inculturação”?

Guerra tribal

Como muitos sabem, os problemas da Igreja Católica são gravíssimos em Burundi e Ruanda, países africanos predominantemente católicos. A guerra tribal lá virou notícia internacional em abril deste ano, quando centenas de milhares de pessoas foram mortas em massacres. Uma testemunha ocular disse: “Vimos mulheres com criancinhas nas costas matando. Vimos crianças matando crianças.”
O jornal National Catholic Reporter comentou sobre a angústia da liderança católica. Disse que o papa “sentiu ‘imensa dor’ ao receber novos relatos de conflitos na pequenina nação africana [Burundi], cuja população é predominantemente católica”.
Os massacres em Ruanda abalaram ainda mais a liderança católica. “Papa condena genocídio em nação 70% católica”, foi uma manchete no mesmo jornal. O artigo dizia: “O conflito nessa nação africana é ‘um verdadeiro genocídio, pelo qual, lamentavelmente, até mesmo os católicos são responsáveis’, disse o papa.”
A atenção dos bispos obviamente estava voltada para a situação em Ruanda, já que as atrocidades nesse país eram cometidas enquanto se realizava o histórico sínodo católico em Roma. O National Catholic Reporter comentou: “O conflito em Ruanda revela algo alarmante: a fé cristã não lançou raízes suficientemente profundas na África para superar o tribalismo.”
Chamando atenção para a preocupação dos bispos em assembléia, o National Catholic Reporter disse ainda: “Esse tema [o tribalismo] foi abordado por Albert Kanene Obiefuna, bispo de Awka, Nigéria, ao falar ao sínodo.” Em seu discurso, Obiefuna explicou: “O africano típico leva a vida familiar e também sua vida cristã no contexto das atividades tribais.”
Depois, sem dúvida pensando em Ruanda, Obiefuna prosseguiu em seu discurso ao sínodo: “Essa mentalidade é tão generalizada que os africanos costumam dizer que, na hora do aperto, não é o conceito cristão da Igreja, como família, que prevalece, mas o adágio ‘sangue é mais grosso do que água’. E, presumivelmente, é possível incluir nessa água as águas do Batismo, por meio das quais a pessoa se filia à família da Igreja. A relação consangüínea é mais importante, até mesmo para o africano que se torna cristão.”
O bispo admitiu assim que, na África, a fé católica não tivera êxito em criar uma fraternidade cristã em que os fiéis realmente amassem uns aos outros como Jesus Cristo ensinou que deviam amar. (João 13:35) Em vez disso, “a relação consangüínea é mais importante” para os católicos africanos, o que resulta em eles colocarem ódios tribais à frente de todas as outras considerações. Como o papa admitiu, os católicos na África precisam assumir a responsabilidade por algumas das piores atrocidades cometidas recentemente.

A igreja católica na África

DO CORRESPONDENTE DE DESPERTAI! NA ITÁLIA
A IGREJA Católica tem dezenas de milhões de fiéis na África, e seus problemas lá são graves. Em meados do primeiro semestre deste ano, mais de 300 líderes eclesiásticos reuniram-se no Vaticano, em Roma, para discutir alguns desses problemas num sínodo especial de um mês de duração.
Ao abrir as sessões, o papa disse, conforme noticiado no jornal L’Osservatore Romano: “Hoje, pela primeira vez, realiza-se um Sínodo da Igreja Africana, que abrange todo o continente. . . . Toda a África está presente hoje na Basílica de S. Pedro. Com profunda afeição, o Bispo de Roma saúda a África.”

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Religião Verdadeira

Obviamente, a religião verdadeira não foi afetada pela confusão dos meios de expressão da humanidade, causada por Deus em Babel. A adoração verdadeira havia sido praticada antes do Dilúvio por homens e mulheres fiéis tais como Abel, Enoque, Noé, bem como a esposa, os filhos e as noras de Noé. Depois do Dilúvio a adoração verdadeira foi preservada na linhagem de Sem, filho de Noé. Abraão, um descendente de Sem, praticou a religião verdadeira e tornou-se conhecido como “pai de todos os que têm fé”. (Romanos 4:11) A sua fé foi apoiada por obras. (Tiago 2:21-23) Sua religião era um modo de vida.

A adoração verdadeira continuou a ser praticada na linhagem dos descendentes de Abraão — Isaque, Jacó (ou, Israel), e os 12 filhos de Jacó, dos quais se originaram as 12 tribos de Israel. No final do século 16 AEC, os descendentes de Abraão, através de Isaque, lutavam para preservar a religião pura num ambiente hostil, pagão — o Egito —, onde estavam reduzidos à escravidão. Deus usou seu servo fiel, Moisés, da tribo de Levi, para libertar Seus adoradores do jugo do Egito, um país mergulhado na religião falsa. Por meio de Moisés, Deus concluiu um pacto com Israel, tornando-o Seu povo escolhido. Naquele tempo, Deus regulamentou a sua adoração, temporariamente estabelecendo-a dentro dos limites de um sistema de sacrifícios administrado por um sacerdócio e com um santuário material, primeiro o tabernáculo portátil e, mais tarde, o templo em Jerusalém.

Deve-se notar, contudo, que esses aspectos materiais não se destinavam a se tornar componentes permanentes da religião verdadeira. A Lei era “sombra das coisas vindouras”. (Colossenses 2:17; Hebreus 9:8-10; 10:1) Antes da Lei mosaica, nos tempos patriarcais, os chefes de família aparentemente representavam-nas na oferta de sacrifícios sobre altares que erigiam. (Gênesis 12:8; 26:25; 35:2, 3; Jó 1:5) Mas não havia nenhum sacerdócio organizado, tampouco algum sistema de sacrifícios, com cerimônias e rituais. Ademais, o próprio Jesus expôs a natureza temporária da regulamentada adoração centralizada em Jerusalém quando disse a uma samaritana: “Vem a hora em que nem neste monte [Gerizim, anterior local de um templo samaritano], nem em Jerusalém, adorareis o Pai. . . . Vem a hora, e agora é, quando os verdadeiros adoradores adorarão o Pai com espírito e verdade.” (João 4:21-23) Jesus mostrou que a religião verdadeira tem de ser praticada, não com coisas materiais, mas com espírito e verdade.

Origem da Religião Falsa

A religião falsa começou na terra quando os primeiros humanos desobedeceram a Deus e aceitaram a proposta da Serpente de decidir por si mesmos “o que é bom e o que é mau”. (Gênesis 3:5) Ao assim agirem, eles rejeitaram a soberania justa de Deus e abandonaram a adoração correta, a religião verdadeira. Foram eles os primeiros humanos “que trocaram a verdade de Deus pela mentira, e veneraram e prestaram serviço sagrado antes à criação do que Àquele que criou”. (Romanos 1:25) A criatura que, sem se aperceberem escolheram adorar, não era outra senão Satanás, o Diabo, “a serpente original”. (Revelação [Apocalipse] 12:9) O filho mais velho deles, Caim, recusou-se a acatar o conselho bondoso de Deus e, assim, rebelou-se contra a Sua soberania. Conscientemente ou não, Caim tornou-se “filho do mau”, isto é, de Satanás, e praticante da adoração do Diabo. Ele matou seu irmão mais novo, Abel, que praticava a adoração verdadeira, a religião verdadeira. (1 João 3:12, Revised English Bible; Gênesis 4:3-8; Hebreus 11:4) O sangue de Abel foi o primeiro sangue derramado por motivos de intolerância religiosa. Infelizmente, a religião falsa tem continuado a derramar sangue inocente até os dias de hoje. — Veja Mateus 23:29-35; 24:3, 9.

Antes do Dilúvio, Satanás logrou êxito em desviar da religião verdadeira a maioria da humanidade. Noé, porém, “achou favor aos olhos de Deus”. Por quê? Porque “andou com o verdadeiro Deus”. Em outras palavras, ele praticava a adoração verdadeira. Religião verdadeira não é uma cerimônia, tampouco um ritual, mas sim um modo de vida. Envolve depositar fé em Deus e servi-lo obedientemente, ‘andando com ele’. Noé fez isto. — Gênesis 6:8, 9, 22; 7:1; Hebreus 11:6, 7.

Não muito depois do Dilúvio, o Diabo aparentemente usou Ninrode, um homem notório por sua “oposição a Deus”, num esforço de unir toda a humanidade numa forma de adoração que também estaria em oposição a Deus. (Gênesis 10:8, 9; 11:2-4) Teria sido uma única religião falsa unida, adoração unificada do Diabo, centralizada na cidade e na torre que seus adoradores construíram. Deus frustrou esse plano por confundir o “um só idioma” que então era falado por toda a humanidade. (Gênesis 11:5-9) Por conseguinte, a cidade veio a ser chamada de Babel, mais tarde Babilônia, ambos os nomes significando “Confusão”. Esta confusão lingüística resultou na dispersão da humanidade por sobre a Terra.

Mas, parece que, à base da história da mitologia e da religião, antes de Deus ter dispersado a humanidade, Satanás já instilara na mente de seus adoradores certos fundamentos da religião falsa. Estes incluíam os conceitos religiosos da sobrevivência de uma alma após a morte, o temor dos mortos, e a existência de um inferno de fogo no além, junto com a adoração de incontáveis deuses e deusas, alguns dos quais eram agrupados em tríades. Tais crenças foram levadas aos confins da Terra pelos vários grupos lingüísticos. Com o passar do tempo, estes conceitos básicos sofreram variações. Como um todo, porém, eles formam a textura da religião falsa em todas as partes do mundo. Embora frustrado na sua tentativa de criar uma única religião falsa unificada, com capital mundial em Babilônia, Satanás se contentou com diversas formas de adoração falsa, que eram de inspiração babilônica e se destinavam a desviar a adoração de Deus para si mesmo. Babilônia continuou por séculos a ser um influente centro de idolatria, magia, feitiçaria e astrologia — componentes essenciais da religião falsa. Não é de admirar que o livro de Revelação retrate o império mundial da religião falsa como imunda meretriz chamada Babilônia, a Grande. — Revelação 17:1-5.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Identificação dos ensinos de demônios

Podem os humanos tementes a Deus resistir aos ensinos de demônios? Sim, podem, por dois motivos. Primeiro, porque o ensino divino é mais poderoso; e segundo, porque Deus expôs as estratégias de Satanás para que pudéssemos resistir a elas. Conforme disse o apóstolo Paulo, “não desconhecemos os seus desígnios”. (2 Coríntios 2:11) Sabemos que Satanás usa a perseguição como um dos meios para alcançar seus objetivos. (2 Timóteo 3:12) Porém, de modo muito mais sutil, ele procura influenciar a mente e o coração daqueles que servem a Deus. Desencaminhou Eva e pôs no coração dela desejos errados. Ele procura fazer o mesmo hoje. Paulo escreveu aos coríntios: “Tenho medo de que, de algum modo, assim como a serpente seduziu Eva pela sua astúcia, vossas mentes sejam corrompidas, afastando-se da sinceridade e da castidade que se devem ao Cristo.” (2 Coríntios 11:3) Considere como Satanás tem corrompido o modo de pensar da humanidade em geral.

Diante de Eva, Satanás acusou Deus de mentir, e disse que os humanos podiam ser como deuses se desobedecessem ao seu Criador. A atual condição decaída da humanidade prova que o mentiroso foi Satanás, não Deus. Os humanos hoje em dia não são deuses! Satanás, porém, acrescentou a esta primeira mentira mais outras. Introduziu a idéia de que a alma humana é imortal, que não pode morrer. Ele tentou assim a humanidade com a possibilidade de ser como deuses de outra forma. Então, baseado nesta doutrina falsa, promoveu os ensinos do inferno de fogo, do purgatório, do espiritismo e da veneração dos antepassados. Estas mentiras ainda escravizam centenas de milhões de pessoas. — Deuteronômio 18:9-13.

Naturalmente, o que Jeová disse a Adão era verdade. Adão morreu mesmo quando pecou contra Deus. (Gênesis 5:5) Quando Adão e seus descendentes morreram, tornaram-se almas mortas, inconscientes e inativas. (Gênesis 2:7; Eclesiastes 9:5, 10; Ezequiel 18:4) Todas as almas humanas morrem porque herdaram o pecado de Adão. (Romanos 5:12) Lá no Éden, porém, Deus prometeu a vinda duma semente (ou descendente) que combateria as obras do Diabo. (Gênesis 3:15) Esta Semente é Jesus Cristo, Filho unigênito do próprio Deus. Jesus morreu sem pecados, e sua vida sacrificada tornou-se o resgate para tirar a humanidade da sua condição moribunda. Aqueles que obedientemente exercem fé em Jesus têm a oportunidade de receber a vida eterna que Adão perdeu. — João 3:36; Romanos 6:23; 1 Timóteo 2:5, 6.

A verdadeira esperança da humanidade é o resgate, não uma idéia vaga de que a alma sobrevive à morte. Este é o ensino divino. É a verdade. É também uma demonstração maravilhosa do amor e da sabedoria de Deus. (João 3:16) Quão gratos devemos ser de termos aprendido esta verdade e de termos ficado livres dos ensinos de demônios nestes assuntos! — João 8:32.

Satanás, com suas mentiras no Éden, incentivou Adão e Eva a aspirarem ser independentes de Deus e a se estribarem na sua própria sabedoria. Atualmente, vemos o resultado disso a longo prazo nos crimes, nas dificuldades econômicas, nas guerras e na crassa desigualdade existentes no mundo de hoje. Não é de admirar que a Bíblia diga: “A sabedoria deste mundo é tolice perante Deus”! (1 Coríntios 3:19) No entanto, a maioria dos humanos prefere tolamente sofrer em vez de prestar atenção aos ensinos de Jeová. (Salmo 14:1-3; 107:17) Os cristãos que aceitam o ensino divino evitam cair nesta armadilha.

Paulo escreveu a Timóteo: “Ó Timóteo, guarda o que te foi confiado, desviando-te dos falatórios vãos, que violam o que é santo, e das contradições do falsamente chamado ‘conhecimento’. Por ostentarem tal conhecimento, alguns se desviaram da fé.” (1 Timóteo 6:20, 21) Este “conhecimento” representa também os ensinos de demônios. Nos dias de Paulo, este provavelmente se referia às idéias apóstatas que alguns nas congregações promoviam. (2 Timóteo 2:16-18) Mais tarde, um falsamente chamado conhecimento, tal como o gnosticismo e a filosofia grega, corrompeu a congregação. No mundo atual, o ateísmo, o agnosticismo, as teorias da evolução e a alta crítica feita à Bíblia são exemplos do falsamente chamado conhecimento, assim como são as idéias antibíblicas promovidas por apóstatas da atualidade. Os frutos de todo este falsamente chamado conhecimento podem ser vistos na degradação moral, no amplo desrespeito pela autoridade, na desonestidade e no egoísmo que caracterizam o sistema de coisas de Satanás.

Ensinos de demônios na atualidade

Conforme registrado no livro de Revelação, o apóstolo João foi levado por inspiração ao “dia do Senhor”, que começou em 1914. (Revelação 1:10) Naquela época, Satanás e seus demônios foram expulsos do céu para a vizinhança da Terra — um grande revés para este opositor de nosso Grandioso Criador. Não mais se ouvia no céu sua voz fazendo constantes acusações contra os servos de Deus. (Revelação 12:10) No entanto, que progresso fizeram os ensinos de demônios na Terra desde o Éden? O registro diz: “Foi lançado para baixo o grande dragão, a serpente original, o chamado Diabo e Satanás, que está desencaminhando toda a terra habitada.” (Revelação 12:9) Todo um mundo tinha sucumbido às mentiras de Satanás! Não é de admirar que Satanás seja chamado de “o governante deste mundo”. — João 12:31; 16:11.

Admitiu Satanás a derrota depois de ter sido expulso do céu? De modo algum! Ele decidiu continuar a lutar contra o ensino divino e contra os que se apegam a este. Depois de ter sido expulso do céu, Satanás continuou sua guerra: “O dragão [Satanás] ficou furioso com a mulher e foi travar guerra com os remanescentes da sua semente, que observam os mandamentos de Deus e têm a obra de dar testemunho de Jesus.” — Revelação 12:17.

Além de Satanás combater os servos de Deus, ele inunda o mundo com a sua propaganda, no empenho de manter a humanidade nas suas garras. Numa das suas visões sobre o dia do Senhor, na Revelação, o apóstolo João observou três animais selvagens, que simbolicamente representavam a Satanás, a sua organização política terrestre e a potência mundial dominante dos nossos tempos. Da boca destes três saíram rãs. O que simbolizavam? João escreve: “São, de fato, expressões inspiradas por demônios e realizam sinais, e vão aos reis de toda a terra habitada, a fim de ajuntá-los para a guerra do grande dia de Deus, o Todo-poderoso.” (Revelação 16:14) É evidente que os ensinos de demônios estão bem ativos na Terra. Satanás e seus demônios ainda lutam contra o ensino divino, e continuarão a fazê-lo até serem impedidos à força por Jesus Cristo, o Rei messiânico. — Revelação 20:2.

Revelados ensinos de demônios

Esses acontecimentos se encontram registrados na Bíblia em Gênesis 3:1-5. Usando uma serpente, Satanás chegou-se à mulher Eva e perguntou: “É realmente assim que Deus disse, que não deveis comer de toda árvore do jardim?” A pergunta parecia inocente, mas examine-a outra vez. “É realmente assim?” Satanás parecia surpreso, como que dizendo: ‘Será que Deus diria uma coisa dessas?’

Eva, na sua inocência, indicou que era mesmo assim. Ela sabia qual era o ensino divino sobre este assunto, que Deus dissera a Adão que eles morreriam se comessem da árvore do conhecimento do que é bom e do que é mau. (Gênesis 2:16, 17) Pelo visto, a pergunta de Satanás despertou o interesse dela, de modo que deu atenção ao ponto-chave do argumento dele: “A isso a serpente disse à mulher: ‘Positivamente não morrereis.’” Que coisa perversa a dizer! Satanás acusou Jeová, o Deus da verdade, o Deus de amor, o Criador, de ter mentido aos Seus filhos humanos! — Salmo 31:5; 1 João 4:16; Revelação (Apocalipse) 4:11.
No entanto, Satanás disse mais. Prosseguiu: “Porque Deus sabe que, no mesmo dia em que comerdes dele, forçosamente se abrirão os vossos olhos e forçosamente sereis como Deus, sabendo o que é bom e o que é mau.” De acordo com Satanás, Deus — que fizera provisões tão abundantes para os nossos primeiros pais — queria privá-los de algo maravilhoso. Queria impedir que fossem como deuses. Satanás questionou assim a bondade de Deus. Promoveu também a satisfação da própria vontade e a desconsideração deliberada das leis de Deus, dizendo que agir assim seria vantajoso. Na realidade, Satanás questionou a soberania de Deus sobre a Sua própria criação, alegando que Deus não tinha nenhum direito de impor limites à atuação do homem.

A partir destas palavras de Satanás, começaram a ser ouvidos ensinos de demônios. Estes ensinos iníquos ainda promovem similares princípios ímpios. Assim como Satanás fez no jardim do Éden, ele agora, junto com outros espíritos rebeldes, ainda questiona o direito de Deus de fixar normas de ação. Ainda contesta a soberania de Deus e procura influenciar os humanos para que desobedeçam ao seu Pai celestial. — 1 João 3:8, 10.

Naquela primeira escaramuça na batalha entre o ensino divino e os ensinos de demônios, Adão e Eva fizeram a decisão errada e perderam a esperança de ter vida eterna. (Gênesis 3:19) O passar dos anos e a deterioração dos seus corpos confirmaram-lhes amplamente quem mentira e quem lhes dissera a verdade lá no Éden. No entanto, centenas de anos antes de morrerem em sentido físico, tornaram-se as primeiras baixas na batalha entre a verdade e as mentiras ao serem julgados indignos da vida pelo seu Criador, a Fonte da vida. Isto ocorreu quando morreram em sentido espiritual. — Salmo 36:9; compare com Efésios 2:1.

Ensino divino contra ensinos de demônios

“Alguns se desviarão da fé, prestando atenção a desencaminhantes pronunciações inspiradas e a ensinos de demônios.” — 1 TIMÓTEO 4:1.

IMAGINE passar toda sua vida numa zona de guerra. O que acharia de ir dormir com o barulho de tiroteio e acordar com o retumbar de artilharia? Infelizmente, em algumas partes do mundo, é assim que as pessoas vivem. Em sentido espiritual, porém, todos os cristãos vivem em situações assim. Encontram-se no meio duma grande batalha que já se trava por uns 6.000 anos e que se intensificou em nossos dias. Que guerra milenar é esta? É a batalha da verdade contra a mentira, do ensino divino contra os ensinos de demônios. Não é exagero classificá-la — pelo menos referente a um dos protagonistas — de conflito mais impiedoso e mais mortífero da história da humanidade.

O apóstolo Paulo mencionou os dois lados envolvidos neste conflito ao escrever a Timóteo: “A pronunciação inspirada diz definitivamente que nos períodos posteriores de tempo alguns se desviarão da fé, prestando atenção a desencaminhantes pronunciações inspiradas e a ensinos de demônios.” (1 Timóteo 4:1) Note que os ensinos de demônios seriam especialmente influentes nos “períodos posteriores de tempo”. Encarado do ponto de vista dos dias de Paulo, nós vivemos neste período de tempo. Note também o que se opõe aos ensinos de demônios, a saber, a “fé”. Neste caso, a “fé” representa o ensino divino, baseado nas divinamente inspiradas pronunciações de Deus, contidas na Bíblia. Uma fé assim vivifica. Ela ensina ao cristão fazer a vontade de Deus. É a verdade que conduz à vida eterna. — João 3:16; 6:40.

Todos aqueles que se desviam da fé perdem a possibilidade de ter vida eterna. São as baixas desta guerra. Que resultado trágico de se deixar desencaminhar por ensinos de demônios! (Mateus 24:24) Como podemos nós mesmos evitar estar entre essas baixas? Por rejeitarmos totalmente esses ensinos mentirosos, que só servem ao objetivo do “governante dos demônios”, Satanás, o Diabo. (Mateus 12:24) Como era previsível, os ensinos de Satanás são mentiras, porque ele é “o pai da mentira”. (João 8:44) Note como foi hábil em usar mentiras para desencaminhar nossos primeiros pais.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

TEMPO DE PROVA E DE DESASTRES

Em resposta à pergunta de seus apóstolos, Jesus descreveu primeiro os acontecimentos que levariam à destruição de Jerusalém dentro daquela geração. “E Jesus, em resposta, disse-lhes: ‘Olhai para que ninguém vos desencaminhe; pois muitos virão à base do meu nome, dizendo: “Eu sou o Cristo”, e desencaminharão a muitos. Ouvireis falar de guerras e relatos de guerras; vede que não fiqueis apavorados. Pois estas coisas têm de acontecer, mas ainda não é o fim.’” — Mateus 24:4-6.

Levantar-se-iam judeus, não afirmando ser Jesus retornado na carne, mas serem o prometido Messias ou Cristo. Mas nem os apóstolos, nem seus condiscípulos deviam deixar-se desencaminhar por tais pretensos messias ou cristos, porque a sua atuação não assinalaria a “presença” ou parusia de Jesus Cristo, nem traria a libertação da nação judaica. A revolta judaica contra os romanos, no ano 66 E.C., foi tal esforço messiânico, mas levou à destruição de Jerusalém e à dispersão da nação judaica. As esperanças messiânicas daquelas pessoas desencaminhadas foram amargamente desapontadas.

Durante este período de trinta e sete anos, houve várias guerras, aos ouvidos dos discípulos ou meramente relatadas a eles como notícias. Mas estas guerras, embora afetassem a situação da nação judaica, não eram as que diretamente trariam o fim do sistema judaico de coisas. Por isso, os discípulos não deviam ficar apavorados ao ponto de tomar qualquer ação prematura. “Ainda não é o fim.”

“Porque”, disse Jesus, ampliando o que dissera sobre guerras e relatos de guerras, “nação se levantará contra nação e reino contra reino, e haverá escassez de víveres e terremotos num lugar após outro. Todas essas coisas são um princípio das dores de aflição.” — Mateus 24:7, 8. Também Marcos 13:8.

12 Visto que tais calamidades eram apenas um “princípio das dores de aflição”, “ainda não” era o fim. Aquelas calamidades apenas eram indícios, não a agonia final da morte. Tais coisas afetariam as pessoas em geral, mas havia coisas que viriam especificamente sobre os discípulos de Jesus, porque anunciavam o verdadeiro Messias ou Cristo e seguiam nas suas pisadas. Por isso, Jesus prosseguiu:

“Então vos entregarão a tribulação e vos matarão, e sereis pessoas odiadas por todas as nações, por causa do meu nome. Então, também, muitos tropeçarão e trairão uns aos outros, e se odiarão uns aos outros. E surgirão muitos falsos profetas, e desencaminharão a muitos; e, por causa do aumento do que é contra a lei, o amor da maioria se esfriará. Mas, quem tiver perseverado até o fim é o que será salvo. E estas boas novas do reino serão pregadas em toda a terra habitada, em testemunho a todas as nações; e então virá o fim.” — Mateus 24:9-14. Veja Marcos 13:9-13.

O livro bíblico intitulado “Atos dos Apóstolos” atesta o cumprimento destas palavras proféticas de Jesus Cristo mesmo dentro daquela geração, porque este livro foi escrito pelo médico Lucas por volta do ano 61 E.C. Outros livros bíblicos, cartas inspiradas escritas por apóstolos e por outros discípulos antes da destruição de Jerusalém em 70 E.C., confirmam a narrativa de Atos dos Apóstolos e fazem acréscimos ao registro do sofrimento dos cristãos, sob perseguição e ódio internacionais para com o cristianismo. As boas novas do reino de Deus haviam penetrado além do Oriente Médio, na Ásia Menor, na Ásia continental, na África, na Europa e nas ilhas do Mar Mediterrâneo. A pregação da mensagem do Reino foi realizada em toda a terra habitada. Embora não resultasse numa conversão mundial ao cristianismo, o que nunca se destinava a realizar, resultou num testemunho a todas as nações. (Colossenses 1:6, 23) Antes de esta façanha louvável ser realizada por testemunhas cristãs denodadas, não podia vir o fim calamitoso de Jerusalém e do sistema judaico de coisas.

Avizinha-se a terminação do “sinal” predito

PODEMOS hoje ser gratos de que os apóstolos de Jesus Cristo lhe fizeram a pergunta: “Dize-nos: Quando sucederão estas coisas e qual será o sinal da tua presença e da terminação do sistema de coisas?” (Mateus 24:3) Sua pergunta levou a que ele proferisse uma profecia extensa e pormenorizada, cuja exatidão nos deixa espantados, ao vermos o progresso de seu cumprimento neste momentoso século vinte. Ajuda-nos a determinar com certeza onde estamos na realização do propósito de Deus para com a humanidade sofredora. Somos fortalecidos na nossa crença de que realmente vivemos durante a “presença” invisível de Cristo, em espírito, e na “terminação do sistema de coisas”, pois vemos o “sinal” que ele predisse.

O “sinal”, em todos os seus pormenores, avizinha-se de sua fase de completa clareza, sem qualquer margem de erro por parte de observadores atentos. O “sinal” tem muitas particularidades, conforme apresentadas na narrativa de Mateus, capítulos vinte e quatro e vinte e cinco, na narrativa de Marcos, capítulo treze, e na narrativa de Lucas, capítulo vinte e um; e levou quase a duração da vida de uma geração da humanidade para se evidenciarem plenamente todas as particularidades do “sinal”. Nos capítulos precedentes, consideramos estas particularidades do sinal, conforme descritas na narrativa de Mateus, capítulo vinte e cinco. Agora consideraremos estas particularidades apresentadas no capítulo vinte e quatro, junto com as narrativas comparativas fornecidas por Marcos e Lucas.

Quando os apóstolos de Cristo iniciaram sua pergunta por dizer: “Dize-nos: Quando sucederão estas coisas?”, eles se referiram às coisas que Jesus havia dito profeticamente naquele mesmo dia de terça-feira, 11 de nisã do ano 33 E.C. No templo de Jerusalém, depois de denunciar os escribas e fariseus religiosos, hipócritas, Jesus prosseguira, dizendo: “Eu vos estou enviando profetas, e sábios, e instrutores públicos. A alguns deles matareis e pendurareis em estacas, e a outros deles açoitareis nas vossas sinagogas e perseguireis de cidade em cidade; para que venha sobre vós todo o sangue justo derramado na terra, desde o sangue do justo Abel até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias, a quem assassinastes entre o santuário e o altar. Deveras, eu vos digo: Todas essas coisas virão sobre esta geração. Jerusalém, Jerusalém, matadora dos profetas e apedrejadora dos que lhe são enviados — quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, assim como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo de suas asas! Mas vós não o quisestes. Eis que a vossa casa vos fica abandonada. Pois eu vos digo: De modo algum me vereis doravante, até que digais: ‘Bendito aquele que vem em nome de Deus!’”

Antes de Jesus sair do templo ou da casa de adoração, acrescentou mais palavras duma profecia solene, a respeito da qual lemos: “Afastando-se então, Jesus ia sair do templo, mas os seus discípulos aproximaram-se para mostrar-lhe os edifícios do templo. Ele, porém, disse-lhes: ‘Não observais todas estas coisas? Deveras, eu vos digo: De modo algum ficará aqui pedra sobre pedra sem ser derrubada.’” — Mateus 23:34 a 24:2.

Apenas dois dias antes, no domingo, 9 de nisã, ele havia interrompido sua viagem triunfal em direção a Jerusalém e chorado sobre ela, por causa de sua vindoura destruição. Predizendo a destruição terrível dela pelos romanos, em 70 E.C., ele disse: “Porque virão sobre ti os dias em que os teus inimigos construirão em volta de ti uma fortificação de estacas pontiagudas e te cercarão, e te afligirão de todos os lados, e despedaçarão contra o chão a ti e a teus filhos dentro de ti, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não discerniste o tempo de seres inspecionada.” — Lucas 19:41-44.

Para os judeus naturais e circuncisos, tais como eram os apóstolos de Cristo, estas eram predições perturbadoras. À geração de que faziam parte sobreviria o sangue inocente derramado no decorrer da história judaica e antes. Exatamente quando se cumpririam tais coisas? Eles queriam saber isso. Criam em Jesus e professavam que ele era o Messias ou Ungido, o Cristo. Mas a predita destruição de Jerusalém indicava que ele não estabeleceria seu reino messiânico naquela cidade condenada. Falou de ele não ser visto “doravante”, mas também de sua vinda “em nome de Deus”. Quando estaria novamente presente, para desempenhar seu papel messiânico? A vindoura destruição de Jerusalém e de seu templo certamente tinha de significar o fim do sistema judaico de coisas. Sem cidade santa e sem templo santo, o sacerdócio judaico da família de Arão, o levita, podia estar entre “filhos” de Jerusalém que seriam despedaçados “contra o chão” ou pelo menos seriam postos fora do seu serviço no templo. Não é de se admirar que os apóstolos perguntassem não só sobre a destruição de Jerusalém e de seu templo, mas também: “Qual será o sinal da tua presença e da terminação do sistema de coisas?”

Suas perguntas referiam-se a pontos corretos de indagação, pois Jesus veio na “terminação” do sistema judaico de coisas. Outros textos falam da situação no mesmo sentido. Hebreus 9:26-28 mostra que Jesus não precisava fazer sacrifícios repetidos de si mesmo e diz: “Senão teria de sofrer muitas vezes, desde a fundação do mundo. Mas agora ele se manifestou uma vez para sempre, na terminação dos sistemas de coisas, para remover o pecado por intermédio do sacrifício de si mesmo. . . . assim também foi oferecido o Cristo uma vez para sempre, para levar os pecados de muitos.” Também 1 Coríntios 10:11 diz: “Ora, estas coisas lhes aconteciam como exemplos e foram escritas como aviso para nós, para quem já chegaram os fins dos sistemas de coisas.” Contado desde o ano da profecia de Jesus sobre o assunto, o sistema judaico de coisas ainda tinha trinta e sete anos de existência, menos de uma geração com a duração de quarenta anos. Jerusalém foi tomaria e destruída pelos romanos em 7 de elul (ou: 30 de agosto de 70 E.C., segundo o calendário gregoriano). O registro bíblico não diz quantos dos apóstolos de Cristo escaparam do martírio e sobreviveram até aquele acontecimento horrível.

domingo, 1 de agosto de 2010

Primitivos Empenhos de Reforma

A crise na Igreja foi notada não apenas por homens como Erasmo e Maquiavel, mas também pela própria Igreja. Convocavam-se concílios da Igreja para considerar algumas das queixas e abusos, mas sem resultados duradouros. Os papas, refestelando-se em poder e glória pessoais, desestimulavam quaisquer empenhos reais de reforma.

Tivesse a Igreja levado mais a sério a limpeza interna, talvez não teria havido Reforma. Mas, do jeito como era, começaram-se a ouvir clamores por reforma de dentro e de fora da igreja. No Capítulo 11 já mencionamos os valdenses e os albigenses. Embora tivessem sido condenados como hereges e impiedosamente esmagados, eles haviam despertado no povo um descontentamento com os abusos do clero católico e suscitado o desejo de um retorno à Bíblia. Tais sentimentos encontraram expressão através de vários primitivos Reformadores.

A Igreja em Declínio

Em fins do século 15, a Igreja de Roma, com paróquias, mosteiros e conventos espalhados por todos os seus domínios, tornara-se a maior proprietária de terras de toda a Europa. Consta que ela era dona de nada menos que a metade das terras na França e na Alemanha, e dois quintos ou mais na Suécia e na Inglaterra. O resultado? O “esplendor de Roma aumentou imensuravelmente em fins dos anos 1400 e início dos 1500, e sua importância política prosperou temporariamente”, diz o livro Uma História da Civilização (em inglês). Toda essa grandeza, porém, tinha um preço, e, para mantê-la, o papado teve de encontrar novas fontes de renda. Descrevendo os vários métodos empregados, o historiador Will Durant escreveu:

“Cada delegado eclesiástico era solicitado a enviar à Cúria Papal — escritórios de administração do papado — metade da renda de seu cargo para o primeiro ano (‘anatas’), e daí em diante um décimo ou dízimo por ano. Um novo bispo tinha de pagar ao papa uma quantia importante [pelo] pálio — tira de lã branca que servia de confirmação e insígnia de sua autoridade. Na morte de um cardeal, arcebispo, bispo ou abade, suas propriedades particulares revertiam ao papado. . . . Todo julgamento ou favor conseguido da Cúria exigia um presente como confirmação, e às vezes, o julgamento era ditado pelo presente.”

As grandes somas que ano após ano afluíam aos cofres papais acabaram levando a muitos abusos e corrupção. Tem-se dito que ‘nem mesmo um papa pode tocar em piche sem sujar os dedos’, e a história da Igreja desse período teve o que certo historiador chamou de “uma sucessão de papas bem mundanos”. Entre estes havia Sisto IV (papa de 1471-84), que gastou enormes somas para construir a Capela Sistina, que leva seu próprio nome, e para enriquecer seus muitos sobrinhos e sobrinhas; Alexandre VI (papa de 1492-1503), o infame Rodrigo Bórgia, que abertamente reconhecia a seus filhos ilegítimos e dava-lhes cargos; e Júlio II (papa de 1503-13), sobrinho de Sisto IV, que era mais propenso a guerras, política e arte do que a seus deveres eclesiásticos. Foi com plena justificação que o erudito católico holandês, Erasmo, escreveu em 1518: “A falta de vergonha da Cúria Romana atingiu o clímax.”

A corrupção e a imoralidade não se limitavam ao papado. Costumava-se dizer na época: “Se quer estragar seu filho, faça dele um sacerdote.” Registros daquele tempo confirmam isso. Segundo Durant, na Inglaterra, entre as “acusações de incontinência [sexual] registradas em 1499, . . . os faltosos clericais perfaziam uns 23 por cento do total, embora o clero fosse talvez menos de 2 por cento da população. Alguns confessores pediam favores sexuais a suas penitentes. Milhares de padres tinham concubinas; na Alemanha, quase todos.” (Contraste com 1 Coríntios 6:9-11; Efésios 5:5.) Os deslizes morais alcançaram também outras áreas. Consta que certo espanhol da época se queixou: “Vejo que dificilmente podemos obter algo dos ministros de Cristo sem ser por dinheiro; no batismo, dinheiro . . . no casamento, dinheiro, para confissão, dinheiro — sim, nem mesmo a extrema unção se consegue sem dinheiro! Eles não tocam os sinos sem dinheiro, não realizam funerais religiosos sem dinheiro; parece que o Paraíso está vedado aos que não têm dinheiro.” — Contraste com 1 Timóteo 6:10.

Resumindo a situação da Igreja Romana no início do século 16, citamos as palavras de Maquiavel, famoso filósofo italiano daquela época:

“Se a religião do cristianismo tivesse sido conservada segundo os preceitos do Fundador, o Estado e a comunidade da cristandade seriam muito mais unidos e felizes do que o são. Nem pode haver maior prova de sua decadência do que o fato de que quanto mais perto estão as pessoas da Igreja Romana, cabeça de sua religião, menos religiosas são.”

A reforma — a busca toma um novo rumo

“A VERDADEIRA tragédia da igreja medieval é que ela deixou de acompanhar os tempos. . . . Longe de ser progressiva, longe de prover liderança espiritual, ela foi retrógrada e decadente, corrupta em todos os seus setores.” Assim diz o livro A História da Reforma (em inglês) sobre a poderosa Igreja Católica Romana, que dominou a maior parte da Europa entre o 5.° século e o século 15 da EC.

2 Como foi que a Igreja de Roma caiu de sua posição todo-poderosa tornando-se ‘decadente e corrupta’? Como foi que o papado, que dizia ser a sucessão apostólica, fracassou em prover “liderança espiritual”? E o que resultou desse fracasso? Para acharmos as respostas, temos de examinar brevemente que tipo de igreja ela deveras se tornara, e que papel desempenhou em ajudar a humanidade na busca do Deus verdadeiro.

sábado, 10 de julho de 2010

A humanidade chega à encruzilhada em 1914 — por quê?

VIVENDO agora, em 2010, por que deveria interessar-se no ano de 1914? Porque, quer já estivesse vivendo naquele tempo, quer não — o que ocorreu naquele ano o atinge.

Desde 1914, o mundo inteiro se tornou como espaçonave que fugiu do controle, movendo-se cada vez mais rápido em direção a grave perigo. Para sabermos como surgiu essa situação, precisamos entender a cadeia de eventos que se iniciaram naquele ano.

Comparado ao nosso violento século vinte, o século anterior é corretamente descrito como “século de paz”. Em 1914, irrompeu a Primeira Guerra Mundial, que mudou tudo isso. Para avaliar exatamente quão ampla é a mudança, considere como o historiador A. J. P. Taylor descreve a Europa continental antes do início da Primeira Guerra Mundial:

“Em 1914, a Europa era uma só comunidade civilizada, mais ainda que no auge do Império Romano. Um homem podia viajar de norte a sul e de leste a oeste do Continente sem um passaporte, até chegar às fronteiras da Rússia. . . . Podia fixar-se num país estrangeiro para trabalhar ou recrear-se sem formalidades legais, exceto, ocasionalmente, algumas exigências sanitárias. Toda moeda valia tanto quanto o ouro, embora sua segurança repousasse, em última análise, na perícia dos financistas da ‘City’ de Londres. Havia formas políticas comuns. . . . Quase em toda parte os homens podiam estar seguros de receber tratamento razoavelmente justo nos tribunais de justiça. Ninguém era morto por motivos religiosos. Ninguém era morto por razões políticas, apesar do rancor um tanto sintético amiúde demonstrado nas disputas políticas. A propriedade privada era segura em toda parte.” — “From Sarajevo to Potsdam.”

Onde pode encontrar condições assim hoje — na Europa ou em qualquer outra parte da terra? Como declara Joseph Wood Krutch:

A Primeira Guerra Mundial [1914-1918] . . . pôs fim a vários séculos de crescente otimismo, conforto, autoconfiança, e da sensação de que o futuro da civilização estava garantido, por ter ela, finalmente, encontrado o rumo certo.”

A Sedução da Filosofia

O historiador Will Durant explica: “A igreja não se limitou a tomar algumas formas e costumes religiosos da Roma [pagã] pré-cristã — a estola e outras vestes sacerdotais, o uso do incenso e da água benta nas purificações, os círios e a luz perpetuamente acesa nos altares, a veneração dos santos, a arquitetura da basílica, a lei romana como base da lei canônica, o título de Pontifex Maximus para o Supremo Pontífice, e no século IV o latim . . . Em breve os bispos, em vez dos prefeitos romanos, seriam a fonte da ordem e a sede do poder nas cidades, os metropolitanos, ou arcebispos, iriam sustentar, senão suplantar, os governadores provinciais; e o sínodo dos bispos sucederia à Assembléia provincial. A Igreja Romana seguiu nas pegadas do Estado Romano.” — A História da Civilização: Volume III — César e Cristo.

Essa atitude de transigência com o mundo romano contrasta-se nitidamente com os ensinos de Cristo e dos apóstolos. (Veja quadro, página 262.) O apóstolo Pedro aconselhou: “Amados, . . . estou acordando as vossas claras faculdades de pensar por meio dum lembrete, para que vos lembreis das declarações anteriormente feitas pelos santos profetas e do mandamento do Senhor e Salvador por intermédio dos vossos apóstolos. Vós, portanto, amados, tendo este conhecimento adiantado, guardai-vos para que não sejais desviados com eles pelo erro dos que desafiam a lei e não decaiais da vossa firmeza.” Paulo aconselhou claramente: “Não vos ponhais em jugo desigual com incrédulos. Pois, que associação tem a justiça com o que é contra a lei? Ou que parceria tem a luz com a escuridão? . . . ‘“Portanto, saí do meio deles e separai-vos”, diz Deus, “e cessai de tocar em coisa impura”’; ‘“e eu vos acolherei.”’” — 2 Pedro 3:1, 2, 17; 2 Coríntios 6:14-17; Revelação [Apocalipse] 18:2-5.

Apesar dessa clara admoestação, cristãos apóstatas do segundo século lançaram mão de todos os ornatos da religião romana pagã. Desviaram-se de sua origem bíblica pura e, em seu lugar, revestiram-se de paramentos e títulos romanos pagãos e ficaram imbuídos da filosofia grega. O professor Wolfson, da Universidade de Harvard, EUA, explica em The Crucible of Christianity (O Crisol do Cristianismo) que, no segundo século, houve um grande influxo de “gentios de formação filosófica” no cristianismo. Estes admiravam a sabedoria dos gregos e julgavam ver similaridades entre a filosofia grega e os ensinos das Escrituras. Wolfson continua: “Diversificadamente, eles às vezes se expressam no sentido de que a filosofia é a dádiva especial de Deus aos gregos, através do raciocínio humano, assim como as Escrituras o são para os judeus, através de revelação direta.” Ele continua: “Os Pais da Igreja . . . deram início a seu empreendimento sistemático de mostrar como, por trás da despretensiosa linguagem que as Escrituras gostam de usar, estão ocultos os ensinamentos dos filósofos enunciados nos obscuros termos técnicos cunhados em suas Academias, Liceus e Pórticos [centros de conferências filosóficas].”

Tal atitude abriu o caminho para a infiltração da filosofia e da terminologia gregas nos ensinos da cristandade, especialmente nos campos da doutrina trinitarista e da crença numa alma imortal. Como diz Wolfson: “Os Pais [da igreja] passaram a buscar nas reservas da terminologia filosófica dois bons termos técnicos, um dos quais seria usado para designar a realidade da distinção de cada membro da Trindade como indivíduo, e o outro para designar a sua fundamental união comum.” Todavia, tiveram de admitir que “o conceito de um Deus trino é um mistério que não pode ser solvido por raciocínio humano”. Em contraste, Paulo reconhecera claramente o perigo de tal contaminação e ‘desvirtuamento das boas novas’ quando escreveu aos cristãos gálatas e colossenses: “Acautelai-vos: talvez haja alguém que vos leve embora como presa sua, por intermédio de filosofia [grego: fi·lo·so·fí·as] e de vão engano, segundo a tradição de homens, segundo as coisas elementares do mundo e não segundo Cristo.” — Gálatas 1:7-9; Colossenses 2:8; 1 Coríntios 1:22, 23.

Apostasia — bloqueado o caminho a Deus

POR QUE são tão importantes os primeiros 400 anos da história da cristandade? Pela mesma razão que são importantes os primeiros anos da vida duma criança — são anos formativos, quando se lança a base para a futura personalidade da pessoa. O que revelam os primeiros séculos da cristandade?

2 Antes de respondermos a esta pergunta, lembremo-nos de uma verdade que Jesus Cristo expressou: “Entrai pelo portão estreito; porque larga e espaçosa é a estrada que conduz à destruição, e muitos são os que entram por ela; ao passo que estreito é o portão e apertada a estrada que conduz à vida, e poucos são os que o acham.” A estrada da conveniência é larga; a de princípios corretos é estreita. — Mateus 7:13, 14.

3 No início do cristianismo, havia dois caminhos possíveis à escolha de quem abraçasse essa fé impopular — apegar-se aos não transigentes ensinos e princípios de Cristo e das Escrituras, ou tender para a ampla e cômoda trilha da transigência com o mundo de então. Como veremos, a história dos primeiros 400 anos mostra qual foi a vereda que a maioria por fim escolheu.

ANTÍDOTOS PARA O PECADO E A APOSTASIA

Há algum freio restritivo contra a prática do pecado? A resposta de João é: “Quem não amar, não chegou a conhecer a Deus, PORQUE DEUS É AMOR.” Assim, com surpreendente simplicidade, João apresenta seu ponto. O segredo é o amor. E o amor de Deus expresso mediante seu Filho é o antídoto para os efeitos do pecado. “Por meio disso é que se manifestou o amor de Deus em nosso caso, porque Deus enviou o seu Filho unigênito ao mundo, para que ganhássemos a vida por intermédio dele.” Que efeito deve ter sobre nós o conhecimento desse fato? João responde: “Amados, se é assim que Deus nos amou, então nós mesmos temos a obrigação de nos amarmos uns aos outros.” — 1 João 4:8-11.

Se realmente amarmos a Deus e ao próximo, resistiremos aos ataques do pecado e da apostasia. O amor não vai deliberadamente de encontro com as leis e os princípios de Deus. Todavia, João adverte: “Há um pecado que incorre em morte.” Os apóstatas impenitentes certamente se encontrariam na categoria dos merecedores da destruição. — 1 João 5:16, 17; Mateus 12:31; Lucas 12:31; Hebreus 6:4-6; 10:23-27.

Se dissermos que o pecado e a apostasia são o fio negro que permeia a carta de João, então o genuíno amor é um cordão de pérolas que o ofusca. Muito embora sua carta transmita uma advertência sombria, não obstante, esta é claramente iluminada por três temas recorrentes: o amor, a luz e a vida. João diz: ‘Evite os mentirosos, os anticristos, os apóstatas. Repudie as trevas, ande na luz. Rejeite o ódio e pratique o amor. Resista ao pecado, sabendo que, caso cometa pecado, tem um ajudador ou defensor junto ao Pai, Jesus Cristo.’ Sim, “o testemunho dado é o seguinte: que Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está em seu Filho”. — 1 João 5:11; 2:1, 2.

Em seu conselho final, João adverte: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos.” (1 João 5:21) No mundo da antiga Roma, tal conselho era bem apropriado. E é igualmente vital para aqueles que hoje desejam praticar o verdadeiro cristianismo e evitar a apostasia. Portanto, acatemos o conselho inspirado de João. Isso nos ajudará a resistir ao pecado, a praticar o genuíno amor cristão, a andar na vereda da verdade e a manter uma atitude inabalável contra a apostasia.

O QUE MOTIVAVA A APOSTASIA?

Qual talvez fosse a motivação básica por trás desses diferentes ensinos apóstatas? Uma possibilidade é fornecida por William Barclay, perito em grego, do século 20, que escreveu que o problema que João procura combater provinha de homens “cujo objetivo era tornar o cristianismo intelectualmente respeitável . . ., que conheciam as tendências e propensões intelectuais da época, e que desejavam expressar o cristianismo nos termos dessas idéias filosóficas prevalecentes. Provinha de homens que achavam que havia chegado o tempo para o cristianismo entrar em acordo com a filosofia secular e com o pensamento contemporâneo.”

Alguns nos tempos modernos têm sustentado um conceito similar, atacando a verdadeira fé em seus alicerces. Esses contestadores desejam enfraquecer os ensinos cristãos e torná-los mais aceitáveis para os elementos respeitados e intelectuais deste sistema. Se tais idéias sustentadas por alguns, nos últimos anos, fossem postas em prática, os estudantes da Bíblia certamente teriam perdido suas qualidades e vitalidade únicas do cristianismo primitivo’.

Portanto, o conselho de João é muito oportuno mesmo hoje: “Pois o amor de Deus significa o seguinte: que observemos os seus mandamentos; contudo, os seus mandamentos não são pesados.” Esses mandamentos incluem pregar as boas novas do Reino de Deus e manter-nos separados do mundo e neutros quanto aos seus conflitos, ao passo que fazemos o máximo para santificar o nome de Deus e praticamos o verdadeiro amor. — 1 João 5:3; Marcos 13:10; João 17:16; Mateus 6:9; 1 João 3:23.

SOMOS PECADORES?

Por incrível que pareça, alguns dos anticristos estavam afirmando que não tinham pecado, ou talvez (visto que se consideravam salvos) imaginassem quem eram incapazes de pecar. Portanto, João refuta essa falácia no decorrer de toda a sua carta. Por exemplo, ele diz: “Se fizermos a declaração: ‘Não temos pecado, estamos desencaminhando a nós mesmos e a verdade não está em nós. . . . Se fizermos a declaração: ‘Não temos cometido pecado’, fazemo-lo [a Deus] mentiroso e a sua palavra não está em nós.” — 1 João 1:8-10.

‘Mas, o que é pecado?’ talvez pergunte. A palavra grega hamartía significa literalmente “errar o alvo”. Mas, sob inspiração, João fornece uma definição mais completa: “Todo aquele que pratica pecado está também praticando o que e contra a lei, e assim o pecado é aquilo que é contra a lei [do grego anomia, denotando desprezo para com a lei e a violação desta, maldade, iniqüidade] . . . Quem estiver praticando pecado origina-se do Diabo . . . Todo aquele que nasceu de Deus não está praticando pecado.” — 1 João 3:4, 8, 9.

Deveras, todos nós somos pecadores. Mas, João está interessado em denunciar o pecador ou violador deliberado da lei, aquele “que pratica o pecado”. Mais adiante, ele expõe a gravidade da situação do praticante do pecado, por dizer: “Os filhos de Deus e os filhos do Diabo evidenciam-se pelo seguinte fato: Todo aquele que não está praticando justiça não se origina de Deus, nem aquele que não ama seu irmão.” (1 João 3:10; 5:18) Portanto, evitemos a prática não-cristã do pecado.

NÃO É JESUS O CRISTO?

Parece que alguns outros professos cristãos de origem judaica começaram a negar que Jesus fosse o Cristo e o Filho de Deus. João censura tal falta de fé por dizer: “Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo, aquele que nega o Pai e o Filho.” (1 João 2:22) As palavras diretas de João não deixam margem para os duvidadores.

João suscita mais adiante outra pergunta para apoiar seu raciocínio: “Quem é que vence o mundo senão aquele que tem fé em que Jesus é o Filho de Deus? . . .Escrevo-vos estas coisas para que saibais que tendes vida eterna, vós os que depositastes a vossa fé no nome do Filho de Deus.” — 1 João 5:5, 13.

VEIO CRISTO NA CARNE?

Mas, talvez pergunte: ‘Como podiam certos crentes negar que Jesus viera na carne?’ Evidentemente, por volta do fim do primeiro século, alguns cristãos foram influenciados pela filosofia grega, incluindo o primitivo gnosticismo. Esses apóstatas sustentavam o conceito de que todas as coisas materiais eram más, incluindo o corpo carnal. Assim, para os anticristos apóstatas, Jesus não viera na carne perniciosa, mas, em vez disso, em espírito. João mostra claramente que não compartilhava tais raciocínios teológicos que negavam a eficácia do sacrifício resgatador de Cristo. Portanto, escreve que “Jesus Cristo, um justo”, foi “um sacrifício propiciatório pelos nossos pecados, contudo, não apenas pelos nossos, mas também pelos do mundo inteiro”. — 1 João 2:1, 2.

Mais adiante, com uma simples e categórica definição, João esclarece ainda mais a questão, dizendo: “Toda expressão inspirada que confessa Jesus Cristo como tendo vindo na carne origina-se de Deus, mas toda expressão inspirada que não confessa a Jesus não se origina de Deus.” — 1 João 4:2, 3.