sábado, 28 de agosto de 2010

A Igreja e a “inculturação”

John M. Walliggo explicou que “adaptação é o termo usado já por muito tempo para referir-se à mesma realidade”. Em palavras mais simples, “inculturação” significa a assimilação de tradições e conceitos de religiões tribais nas cerimônias e no culto católicos, dando-se novo nome e novo significado a antigos ritos, objetos, gestos e lugares.
A inculturação permite que os africanos sejam considerados católicos de boa reputação e ainda se apeguem a práticas, cerimônias e crenças de suas religiões tribais. Deveria haver objeção a isso? O jornal italiano La Repubblica, por exemplo, perguntou: “Não é verdade que, na Europa, o Natal foi embutido na festa do Solis Invicti, que caía em 25 de dezembro?”
De fato, como comentou o cardeal Josef Tomko, prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, “a Igreja missionária praticava a inculturação muito antes de o termo passar a ser usado”. A celebração do Natal ilustra bem isso, como disse La Reppublica. Originalmente, o Natal era uma celebração pagã. “A data de 25 de dezembro não corresponde ao nascimento de Cristo”, reconhece a New Catholic Encyclopedia, “mas à festa do Natalis Solis Invicti, o festival romano do sol, no solstício”.
O Natal é apenas um dentre muitos costumes da Igreja embutidos no paganismo. É o caso de crenças como a Trindade, a imortalidade da alma e o tormento eterno de almas humanas após a morte. O cardeal John Henry Newman, do século 19, escreveu: “Os governantes da Igreja, desde os tempos primitivos, estavam preparados, caso surgisse a ocasião, para adotar, imitar ou sancionar os existentes ritos e costumes da populaça.” Alistando muitas práticas e dias santos eclesiásticos, ele disse que ‘todos eram de origem pagã e foram santificados pela sua adoção na Igreja’.
Quando os católicos entram em regiões não-cristãs, como certas regiões da África, em muitos casos constatam que as pessoas já têm práticas e crenças religiosas similares às da Igreja. Isso acontece porque, em séculos passados, a Igreja adotou práticas e ensinos de povos não-cristãos e introduziu-os no catolicismo. Essas práticas e ensinos, disse o cardeal Newman, foram ‘santificados pela sua adoção na Igreja’.
Assim, quando o Papa João Paulo II visitou povos não-cristãos na África no ano passado, L’Osservatore Romano atribuiu-lhe a declaração: “Em Cotonou [Benin, África], encontrei-me com adeptos do vodu, e ficou evidente, por sua maneira de falar, que, de algum modo, eles já têm em sua mentalidade, ritos, símbolos e índole um pouco daquilo que a Igreja quer oferecer-lhes. Estão apenas esperando que alguém vá lá e lhes dê uma mão para que possam cruzar a fronteira e vivenciar, por meio do Batismo, o que, de algum modo, já vivenciavam antes do Batismo.”

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