domingo, 1 de agosto de 2010

A Igreja em Declínio

Em fins do século 15, a Igreja de Roma, com paróquias, mosteiros e conventos espalhados por todos os seus domínios, tornara-se a maior proprietária de terras de toda a Europa. Consta que ela era dona de nada menos que a metade das terras na França e na Alemanha, e dois quintos ou mais na Suécia e na Inglaterra. O resultado? O “esplendor de Roma aumentou imensuravelmente em fins dos anos 1400 e início dos 1500, e sua importância política prosperou temporariamente”, diz o livro Uma História da Civilização (em inglês). Toda essa grandeza, porém, tinha um preço, e, para mantê-la, o papado teve de encontrar novas fontes de renda. Descrevendo os vários métodos empregados, o historiador Will Durant escreveu:

“Cada delegado eclesiástico era solicitado a enviar à Cúria Papal — escritórios de administração do papado — metade da renda de seu cargo para o primeiro ano (‘anatas’), e daí em diante um décimo ou dízimo por ano. Um novo bispo tinha de pagar ao papa uma quantia importante [pelo] pálio — tira de lã branca que servia de confirmação e insígnia de sua autoridade. Na morte de um cardeal, arcebispo, bispo ou abade, suas propriedades particulares revertiam ao papado. . . . Todo julgamento ou favor conseguido da Cúria exigia um presente como confirmação, e às vezes, o julgamento era ditado pelo presente.”

As grandes somas que ano após ano afluíam aos cofres papais acabaram levando a muitos abusos e corrupção. Tem-se dito que ‘nem mesmo um papa pode tocar em piche sem sujar os dedos’, e a história da Igreja desse período teve o que certo historiador chamou de “uma sucessão de papas bem mundanos”. Entre estes havia Sisto IV (papa de 1471-84), que gastou enormes somas para construir a Capela Sistina, que leva seu próprio nome, e para enriquecer seus muitos sobrinhos e sobrinhas; Alexandre VI (papa de 1492-1503), o infame Rodrigo Bórgia, que abertamente reconhecia a seus filhos ilegítimos e dava-lhes cargos; e Júlio II (papa de 1503-13), sobrinho de Sisto IV, que era mais propenso a guerras, política e arte do que a seus deveres eclesiásticos. Foi com plena justificação que o erudito católico holandês, Erasmo, escreveu em 1518: “A falta de vergonha da Cúria Romana atingiu o clímax.”

A corrupção e a imoralidade não se limitavam ao papado. Costumava-se dizer na época: “Se quer estragar seu filho, faça dele um sacerdote.” Registros daquele tempo confirmam isso. Segundo Durant, na Inglaterra, entre as “acusações de incontinência [sexual] registradas em 1499, . . . os faltosos clericais perfaziam uns 23 por cento do total, embora o clero fosse talvez menos de 2 por cento da população. Alguns confessores pediam favores sexuais a suas penitentes. Milhares de padres tinham concubinas; na Alemanha, quase todos.” (Contraste com 1 Coríntios 6:9-11; Efésios 5:5.) Os deslizes morais alcançaram também outras áreas. Consta que certo espanhol da época se queixou: “Vejo que dificilmente podemos obter algo dos ministros de Cristo sem ser por dinheiro; no batismo, dinheiro . . . no casamento, dinheiro, para confissão, dinheiro — sim, nem mesmo a extrema unção se consegue sem dinheiro! Eles não tocam os sinos sem dinheiro, não realizam funerais religiosos sem dinheiro; parece que o Paraíso está vedado aos que não têm dinheiro.” — Contraste com 1 Timóteo 6:10.

Resumindo a situação da Igreja Romana no início do século 16, citamos as palavras de Maquiavel, famoso filósofo italiano daquela época:

“Se a religião do cristianismo tivesse sido conservada segundo os preceitos do Fundador, o Estado e a comunidade da cristandade seriam muito mais unidos e felizes do que o são. Nem pode haver maior prova de sua decadência do que o fato de que quanto mais perto estão as pessoas da Igreja Romana, cabeça de sua religião, menos religiosas são.”

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